Dez projetos no Senado, dezenove na Câmara, dois anos para debate e
nenhuma solução. Essa conta malfeita, conduzida por deputados e
senadores, resultou na decisão do presidente em exercício do Supremo
Tribunal Federal (STF), ministro Ricardo Lewandowski, de dar mais cinco
meses, a partir da notificação ao Congresso, para que seja aprovado um
novo modelo de divisão dos recursos do Fundo de Participação dos
Estados (FPE).
Ao conceder mais 150 dias para o Congresso aprovar uma nova
regulamentação dos repasses, o presidente em exercício do Supremo
deixou um dilema para os demais integrantes da Corte.
A partir de 1º de fevereiro, data em que voltam do recesso, os
ministros do STF vão ter que decidir se mantêm ou derrubam a liminar
concedida por Lewandowski. Em seu despacho, o ministro escreveu que
concedia liminar "ad referendum" do plenário, ou seja, pendente de
aprovação pelos demais integrantes da Corte. A apreciação da liminar
será mais um julgamento de um tema que gera conflito direto entre o
Judiciário e o Legislativo.
Esse é apenas mais um obstáculo à solução definitiva da intrincada
questão. "O Congresso Nacional está envidando os esforços possíveis
para solucionar o tema em questão, que se revela de grande complexidade
conceitual e de elevada sensibilidade no tocante ao próprio pacto
federativo brasileiro", escreveu Lewandowski ao prorrogar o prazo.
O dilema do FPE teve início em fevereiro de 2010, quando os
ministros do Supremo concluíram que os critérios de repartição do fundo
estavam desatualizados e precisavam ser corrigidos. Os critérios
estabelecem que 85% das verbas do fundo devem ser destinadas para
estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Ao verificar que essa
sistemática de divisão dos recursos do fundo - mais de R$ 44 bilhões
por ano - foi estabelecida em 1989 e padecia de revisão, o tribunal deu
um prazo para a aprovação de nova lei com critérios atualizados: 31 de
dezembro de 2012. O problema é que esse prazo foi vencido e a lei não
foi aprovada.
Agora, o Congresso ganhou mais cinco meses para aprovar a nova lei
do FPE. A discussão no Senado avançou mais que na Câmara e oito
projetos que tratam do tema passaram a tramitar conjuntamente, em uma
tentativa de acelerar a aprovação de um texto de consenso. Eles
encontram-se em análise pela Comissão de Desenvolvimento Regional, mas
ainda devem passar pelas comissões de Assuntos Econômicos e de
Constituição, Justiça e Cidadania.
A prorrogação agradou a senadores aliados e da oposição. O FPE
provoca embate entre Estados e não entre partidos. "Sem nenhuma dúvida,
foi a decisão mais sensata e coerente", disse o líder do governo,
senador Eduardo Braga (PMDB-AM).
O líder e presidente nacional do DEM, Agripino Maia (RN), também
classificou a decisão do ministro como "sensata" e "correta", porque a
indefinição poderia abrir espaço para futuras contestações.
Nos últimos seis meses, o líder do PT, senador Walter Pinheiro
(PT-BA), atraiu o debate para sua proposta de substitutivo a todos os
demais projetos, protocolada em novembro, a que parece ter agora mais
apoio, mas não unanimidade.
O texto de Pinheiro estabelece como "piso" o valor recebido por cada
uma das unidades da federação em 2012. O que exceder esse montante
será distribuído de acordo com coeficientes baseados na população e no
inverso da renda per capita domiciliar dos Estados e do Distrito
Federal. Segundo o projeto, esse modelo de partilha só valeria até 2015,
quando o Congresso deverá discutir e aprovar um novo rateio para o
fundo.
"Eu defendo a aprovação, em fevereiro ainda, de uma proposta
preliminar, até para dar conforto ao STF", declarou o petista. "Mesmo
tendo divergências, é importante que Câmara e Senado entendam que é
preciso aplicar uma regra que dê segurança jurídica, mesmo que não seja
definitivo. Isso dá um conforto para discutir depois mudanças mais
radicais ou profundas".
Segundo senadores entrevistados pelo Valor, no entanto, mesmo com
uma proposta transitória, o projeto de Pinheiro não encontra consenso
porque há Estados que não aceitarão manter distorções que já existem na
atual legislação. "As propostas apresentadas até agora são para manter
privilégios, então não é proposta", comentou um senador.
Fonte: Jornal O Globo
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