A desindustrialização brasileira é um problema grave para as gerações
que se preparam para enfrentar o mercado de trabalho que, apenas em
2012, recuou 1,5% em comparação com o ano anterior. O Ministério da
Fazenda relata, apenas na última década, um crescimento de 375,5% no
valor das importações. O consumo comanda a economia. Falta uma política
fiscal responsável, que cuide da reforma do sistema tributário e
estimule a produção.
A Constituição implementou no país um sistema tributário fundado em
distribuição de competências tributantes, direitos do contribuinte e
divisão de receitas tributárias. A estrutura fiscal tem por objetivo
garantir o custeio do Estado. Uma espécie constitucional tipicamente
brasileira, composta de União, Estados e municípios, reparte o poder
político em três entidades federadas. Pretendeu o constituinte
descentralizar o Estado, distribuindo competências administrativas e
tributantes. De fato, o plano constitucional nunca se concretizou.
Tão logo promulgada a Constituição, que em 2013 completará 25 anos,
iniciaram-se sucessivos movimentos de reforma tributária. Nos últimos
dois governos, em especial, foram promovidas as assim denominadas
reformas fatiadas. Delas apenas se pode observar aumento de receita e
perda de direitos do contribuinte.
Para ajudar o empreendedor basta redução, segurança jurídica e previsibilidade para o sistema tributário
A Receita Federal do Brasil revelou, em 2011, a maior carga tributária
na série histórica desde 2002. Nada menos que 35,31% do Produto Interno
Bruto (PIB) brasileiro é consumido com tributos. A Associação Comercial
do Estado de São Paulo divulgou, na última semana de 2012, a arrecadação
anual projetada de R$ 1,5 trilhão.
Reformas pontuais isentaram, temporariamente, determinados setores da
economia de tributos sobre o consumo, como IPI, PIS e Cofins. Também foi
promovida a desoneração da folha de salários, com contrapartida na
tributação sobre a receita. Essas medidas anticíclicas, mantidas por um
período prolongado, acabaram por neutralizar seu efeito macroeconômico. A
inflação não recuou, a atividade econômica seguiu inerte, o déficit
fiscal não foi controlado. A reforma pontual, remédio paliativo, é
incapaz de gerar efeitos perenes na economia. Os contribuintes, afinal,
aguardam por uma redução de carga fiscal que não vem.
A verdadeira reforma tributária está estagnada na casa Legislativa. A
Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que trata de reforma tributária
está em votação no Congresso Nacional, sem prazo para aprovação.
Estudos de respeitáveis instituições públicas e privadas são
sistematicamente ignorados pelos agentes de política fiscal do governo
federal. Não foram, assim, promovidas as proclamadas reformas sobre o
Imposto de Renda, IPI, Cide, IOF, PIS e Cofins. Sem contar o malfadado
imposto sobre o patrimônio (ITR), que a União finge cobrar e o
contribuinte finge pagar.
Em relação aos entes federados, Estados e municípios mantêm impostos e
taxas de baixa eficiência fiscal, além de uma obsoleta máquina
arrecadadora. Além disso, para atrair investimentos aos seus
territórios, praticam renúncia fiscal em larga escala, a chamada guerra
fiscal. Abrem mão de recolher impostos importantes para a administração
de suas funções constitucionais. Alguns municípios chegam a depender
exclusivamente dos repasses de tributos da União para pagar suas contas.
As desonerações alcançaram o limite do possível, segundo a Lei de
Responsabilidade Fiscal (LRF), que o governo federal pretende
flexibilizar.
Se a proposta passar no Congresso, as renúncias fiscais não encontrarão
mais limites de geração de receita correspondente - a LRF em mais um
ato de ideologia destrutiva anunciado desde a campanha presidencial de
2001.
O conflito entre Estados brasileiros em torno do tributo mais
importante que arrecadam, o ICMS, já dura 20 anos. Apenas esse tributo
representa, isoladamente, 50% da arrecadação versus PIB. O STF jogou a
responsabilidade da solução para o Congresso Nacional. Este se encontra
num difícil embate entre forças políticas de parlamentares
representantes dos Estados. O fim da guerra fiscal parece ter sido
deixado para 2014. Pode ser, ainda, que se implemente um sistema
escalonado no tempo, em dez anos, para o fim desse desequilíbrio
federativo. Será que o capital produtivo tem fôlego para aguardar tanto?
Enquanto os representantes do povo não se entendem sobre a reforma, o
contribuinte sofre com o sistema tributário. O Ipea revela, em estudo
recente, que os mais pobres trabalham quase o dobro de dias por ano do
que os mais ricos para arcar com os tributos que pagam. Os mais pobres
comprometem um terço de seu ganho com efeito regressivo do sistema
tributário, enquanto os mais ricos apenas 20%. O efeito regressivo do
sistema tributário brasileiro se deve, em grande parte, à preferência do
agente de política fiscal em prol dos tributos sobre o consumo. Esse
efeito perverso da tributação agrava a distância entre ricos e pobres no
Brasil.
A reforma tributária possível deveria começar pelo ajuste dessa
distorção. A unificação dos tributos federais sobre o consumo, não
parece ser a melhor opção. Basta a esses uma significativa redução
linear de alíquota, em dois pontos percentuais, extintos os privilégios
para determinados setores da economia.
Os impostos diretos federais, como o imposto de renda, precisam ser
racionalizados, com revisão urgente de mecanismos simplificadores. O
imposto de renda presumido e o Simples federal deveriam ser revistos por
completo.
Por outro lado, a revisão do imposto de renda traria um valioso
contributo para a justiça fiscal. A implementação de maiores faixas de
progressão do imposto de renda e a revisão de isenção e dedutibilidade
desoneraria os contribuintes individuais, a classe média, que mais paga
impostos.
Para despertar o espírito animal do empreendedor basta garantir
redução, segurança jurídica e previsibilidade para o sistema tributário.
A presidente Dilma deve isso ao empresário e ao contribuinte
brasileiros.
Fonte: Jornal Valor Econômico
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