BRASÍLIA Num ano de arrecadação fraca e gastos crescentes, o esforço
de União, estados e municípios para o pagamento dos juros da dívida
ficou bem aquém da meta de superávit primário prevista em lei. Juntos,
esses entes pouparam R$ 105 bilhões, 25% abaixo da meta de R$ 139,8
bilhões. Porém, formalmente, o objetivo foi cumprido porque o governo
usou a prerrogativa de descontar da meta os investimentos do Programa
de Aceleração do Crescimento (PAC).
A meta era equivalente a 3,11% do Produto Interno Bruto (PIB,
conjunto de bens e serviços produzidos) e o país poupou 2,38% do PIB.
Para preencher essa lacuna, o governo abateu R$ 34 bilhões de
investimentos em obras do PAC. Internacionalmente, essa prática é
aceita, pois as autoridades entendem que investir em anos ruins é uma
das saídas para amenizar crises.
Com esse e outros artifícios, o governo conseguiu um superávit
memorável em dezembro: R$ 22,3 bilhões. É o terceiro melhor desempenho
para qualquer mês desde quando o Banco Central (BC) começou a registrar
os dados há 11 anos. Foi preciso fazer esses descontos, sobretudo
porque estados e municípios não pouparam R$ 22,9 bilhões dos R$ 42,8
bilhões previstos.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, defendeu as manobras fiscais
feitas pelo governo para fechar as contas de 2012. A equipe econômica
antecipou dividendos de estatais e usou recursos do Fundo Soberano,
além de abater boa parte dos investimentos do PAC.
- Temos um rigor fiscal dez vezes maior hoje do que existia no
passado. Tudo o que nós fazemos é transparente, está no Diário Oficial,
está dentro da lei. Na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) e na lei
Orçamentária estava escrito que podíamos abater o PAC. Tudo o que
fizemos é legítimo e faz parte do processo anticíclico - disse ele.
Meta de déficit zero ameaçada
Mantega disse que o Brasil está entre os países com maior
transparência fiscal. Citando uma pesquisa internacional, ele afirmou
que, entre 100 nações, o Brasil ficou em 12º lugar, na frente de
economias como a da Alemanha. O governo, disse ele, conseguiu atingir o
principal objetivo da política fiscal em 2012, que foi reduzir a
dívida em relação ao PIB, que fechou o ano em 35,1%.
Os juros no menor patamar da história e a inflação mais baixa que no
ano anterior fizeram com que o governo pagasse juros mais baixos sobre
os papéis da dívida pública. Em 2012, R$ 213,9 bilhões em juros
pesaram sobre as contas do país. A cifra é recorde, mas na comparação
com o tamanho da economia, é o menor nível pago em um ano: 4,85% do
PIB.
Considerando receitas e despesas, faltaram R$ 108,9 bilhões para
fechar o caixa do governo no ano. Isso representa 2,47% do PIB. É o
melhor resultado desde 2008. E coloca o Brasil em vantagem na
comparação internacional. Economias maduras têm rombo nas contas
públicas de dois dígitos.
- Os mandamentos sólidos da economia brasileira fazem com que, num
ambiente de crise, o Brasil se compare favoravelmente a outros países -
disse o chefe adjunto do Departamento Econômico do BC, Fernando Rocha.
Mas, para o especialista em contas públicas Mansueto de Almeida, o
resultado de 2012 dificulta a meta da presidente Dilma Rousseff de
terminar seu mandato com um déficit nominal zero. Ele argumenta que se o
superávit fosse completo, o déficit seria de 1,7% do PIB.
Fonte: O Globo
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