O Congresso Nacional irá rejeitar qualquer possibilidade de anulação da
reforma da Previdência aprovada em 2003, durante o governo do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O tema voltou à pauta nesta
semana e, a depender do seu desenrolar, pode deflagrar mais um embate
entre Executivo e Legislativo. O motivo é que a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Carmen Lúcia
requisitou ao Congresso informações, "no prazo máximo e irrevogável de
dez dias", sobre o processo de votação da reforma. O ofício foi remetido
à Câmara e ao Senado. Trata-se de um despacho feito em uma ação direta
de inconstitucionalidade (ADI) do PSOL, na qual pede a nulidade da
votação em decorrência do mensalão. A justificativa é de que "houve um
esquema criminoso de compra de apoio político, tendo sido comprovado o
recebimento pelos deputados de valores para que pudessem votar de acordo
com a orientação do governo ". O presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN),
não haver essa possibilidade. "Não vejo a menor possibilidade de
anulação. Essa votação foi há dez anos." A declaração foi dada com
exclusividade ao Valor PRO, serviço em tempo real do Valor. Questionado
sobre a eventual contaminação geral da votação, respondeu: "Não vejo a
menor lógica nisso." A mesma visão tem a área técnica da Câmara, que redigirá uma resposta
sustentando a constitucionalidade da votação com base em alguns
argumentos. O mais relevante deles é o de que a condenação individual de
três deputados que dela participaram - os então líderes do PP, Pedro
Henry (MT); do PTB, Roberto Jefferson (RJ); e do PL (atual PR), Valdemar
Costa Neto (SP) - não contamina toda a votação. Isso porque, para a Câmara, nem mesmo os órgãos responsáveis em
investigar e julgar a compra de votos, Ministério Público e STF,
concluíram que houve uma ampla compra de votos e nem apontaram elemento
para essa conclusão. A conclusão é de que tudo correu de acordo com a
Constituição. No Senado, a resposta será de que não há senadores
envolvidos no julgamento e que a votação transcorreu normalmente. Mesmo com todo esforço de argumentação, a aposta no Congresso é de que o
STF apenas cumpre um rito ao pedir informações, pois tem uma tradição
de evitar decisões que gerem grande instabilidade jurídica. Daria, nesse
caso, uma resposta mais política do que técnica. Caso contrário, o
imbróglio jurídico seria imensurável, pois teria de haver uma reversão
de medidas como a taxação dos inativos, a contribuição de 11% sobre os
proventos de aposentadorias e pensões acima do teto de benefícios do
INSS. Fora isso, outras votações, como a reforma tributária, também
poderia ser questionada. "É uma atitude previsível do PSOL questionar isso e mais previsível
ainda a responsabilidade do Supremo com a economia nacional", disse o
vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PR). Ele afirmou ainda
confiar que o Supremo não irá anular a votação. O líder do PT na Câmara,
José Guimarães (CE), disse que se o cenário for adverso o governo pode
articular junto ao STF. "O governo tem um bom diálogo ali." Para o PSOL, só a comprovação da compra de votos de três parlamentares
feita pelo STF já torna nula a votação. "Mas a compra foi muito maior",
disse o deputado Ivan Valente (SP), presidente do partido. Em suas
contas, e que foram demonstradas na ADI, a taxa de apoio a votação da
reforma foi de 100% no bloco PL-PSL (38 deputados); 82,97% no PTB (39 de
47 deputados) e 70,45% no PP (31 de 44 deputados). "É evidente que
houve compra geral de votos nesses partidos. Por que você acha que
Jefferson e Valdemar continuam os controlando até hoje e nada aconteceu
com o Henry? Eles têm a lista dos que receberam propina", afirmou
Valente. Ontem, o PSOL ganhou um aliado. Os servidores do Banco Central
anunciaram que também vão ao STF pedir que a reforma seja anulada por
causa do mensalão. O Sindicato Nacional dos Funcionários do BC (Sinal)
quer ingressar como parte interessada nas ações diretas de
inconstitucionalidade que questionam a forma da aprovação da reforma da
Previdência pelo Congresso. Além do PSOL, já pediram a anulação a
Confederação dos Servidores Públicos do Brasil (CSPB), a Associação dos
Magistrados Brasileiros (AMB), a Associação Nacional dos Magistrados da
Justiça do Trabalho (Anamatra) e a Associação dos Delegados de Polícia
do Brasil (Adepol). Em nota, o sindicato informou que "mais de cem
parlamentares, que votaram a favor da reforma, sob orientação dos
líderes partidários Valdemar Costa Neto, Roberto Jefferson e Pedro
Henry, não o fizeram representando o povo, mas sim, os seus próprios
interesses". "Para o sindicato, estão comprometidos os princípios da
representação popular e da moralidade", completou a nota do Sinal.
Fonte: Jornal O Valor Econômico
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