Ao suspender a liminar concedida pelo ministro Luiz Fux no fim do ano
passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) removeu a barreira que
impedia o Congresso Nacional de repetir o ato de vandalismo contra o
pacto federativo, a pretexto de redistribuição das receitas de royalties
do petróleo extraído no mar. Argumentos no sentido de evitar essa
barbárie política têm sido inúteis, pois há grupos de parlamentares,
insuflados por governadores e prefeitos, que passaram a se comportar
como matilhas.
E o pior é que, com isso, só têm alimentado ilusões
junto à opinião pública de suas bases eleitorais. Pulverizada, a
receita de royalties não faria diferença substantiva na arrecadação de
estados e municípios não produtores de petróleo a ponto de resolver
graves problemas financeiros que várias unidades federativas hoje
enfrentam. Por outro lado, se materializada, essa redistribuição seria
capaz de desorganizar as finanças dos produtores, especialmente dos
municípios diretamente afetados pela atividade petrolífera. Nenhum dos
parlamentares que empunhou essa bandeira da redistribuição se dignou a
fazer uma única visita que seja a Macaé, por exemplo.
Estados e
municípios não produtores que se incorporaram a essa bandeira certamente
se arrependerão do que fizeram quando campos descobertos (ou a
descobrir) em seu litoral entrarem em produção. É o caso do Estado de
São Paulo, de Santa Catarina , de Sergipe e de Alagoas, em futuro
próximo, e de Bahia, Rio Grande do Norte, Ceará, Maranhão, Piauí e Pará
daqui a alguns anos.
O veto da presidente Dilma a essa tentativa
de vandalismo contra o pacto federativo buscou reintroduzir a sensatez
nessa necessária relação de boa convivência entre estados e municípios
brasileiros. Para não desorganizar as finanças dos produtores, o veto
manteve as regras em vigor sobre os contratos já assinados e assegurou
novas condições para o futuro. Embora signifique perda para os
produtores, houve acordo em relação a isso, partindo-se da premissa que,
a partir das descobertas na camada do pré-sal, a produção de petróleo
no mar atingirá um patamar bem elevado na próxima década.
Esse
acordo evitaria uma longa uma disputa judicial que impedirá os não
produtores de saciar a sede no pote, e ainda removeria do horizonte um
fator de incerteza para a atividade do petróleo. As esperanças de que
isso venha a ocorrer diminuem com o passar do tempo, em vez de
aumentarem, como seria natural. Os parlamentares de estados não
produtores que têm pretensões nacionais deveriam meditar a respeito,
pois sempre que aspirarem uma candidatura possivelmente não contarão com
apoio no Rio de Janeiro e Espírito Santo, cuja importância como colégio
eleitoral já foi evidenciada várias vezes nos últimos anos.
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