Enquanto missão do governo brasileiro apresenta projetos de
investimentos em infraestrutura e energia no eixo Nova York-Londres, o
Supremo Tribunal devolve ao Congresso a decisão sobre o veto da
presidente Dilma à lei que expropria royalties já contratados de estados
produtores de petróleo. Não são fatos desconexos.
Com a quase
certa derrubada do veto nos próximos dias, pela majoritária bancada dos
estados não produtores, Rio de Janeiro e Espírito Santo, os mais
prejudicados, recorrerão ao STF para uma desgastante batalha jurídica
sobre a constitucionalidade desta quebra de contrato, por uma lei que
retroage em seus efeitos. Não há mesmo alternativa a não ser ir à
Justiça.
A relação entre os “road-shows” para atrair investidores
externos e a novela dos royalties é a questão da insegurança jurídica
que tem acompanhado o Brasil nos últimos meses. No encontro de Nova York
patrocinado pela comitiva brasileira, pelo menos um representante de
empresa levantou este ponto com relação ao setor de energia elétrica, em
que o Planalto interveio com mão pesada e impôs perdas patrimoniais
para viabilizar um desejado corte na conta de luz, mas num percentual
convertido em peça político-partidária.
Autoridades garantem não
existir qualquer reflexo negativo da luta jurídica em torno dos
royalties sobre as rodadas de licitação de áreas para exploração de
petróleo, a serem retomadas em maio. Faz sentido, pois para o licitante
não importa o destino de impostos e royalties cobrados sobre a produção
futura de óleo e gás que ele vier a descobrir.
Mas o clima geral
não é animador para o investidor externo. A Petrobras ficou muito tempo
fora do mercado de licitações, novos negócios promissores apareceram no
mundo, entre eles a quase certa abertura da Pemex, a estatal mexicana,
para consórcios com grupos privados. O novo presidente mexicano, Peña
Nieto, pretende, segundo o jornal “Financial Times”, aprovar em meados
do ano a reforma da empresa, para torná-la flexível como a Petrobras,
sem desestatizá-la. A Shell e a Exxon esperam apenas a aprovação das
mudanças para investir no país. Há um grande atrativo: reservas de 115
bilhões de barris, equivalentes às do Kuwait. Para comparar: com o
pré-sal, estima a Coppe-UFRJ, o Brasil pode chegar a pouco mais de 70
bilhões, em mais seis anos.
E o México ainda tem a vantagem de uma
inflação mais baixa (3,2% em 2012), maior crescimento (3,9%) e um
ambiente para os negócios que parece ser mais amigável aos investidores.
Neste
quadro, a luta judicial em torno dos royalties representa um ruído
adicional a ser analisado pelos investidores do ponto de vista do risco.
Além dos problemas financeiros graves da Petrobras, a ponto de ela
provavelmente não ter condições, como imaginaram estrategistas de
Brasília, de ser monopolista na operação no pré-sal e dona cativa de 30%
de todo consórcio nesta área. Mais uma complicação para futuras
licitações.
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