Acuado com a possibilidade de perder R$ 75 bilhões até 2020 em
receitas de royalties e participação especiais no Estado e nos
municípios do Rio, Sérgio Cabral (PMDB) anunciou ontem a suspensão de
todos os pagamentos do Estado, com exceção dos servidores públicos, até
que o Supremo Tribunal Federal (STF) se pronuncie sobre a
constitucionalidade da lei aprovada pelo Congresso Nacional. O
governador também ameaçou tomar medidas para recuperar os recursos
perdidos. "Se o Supremo não considerar inconstutucional, temos um
arsenal de ações", disse, referindo-se a possíveis taxações ao setor
petrolífero e retirada de isenções fiscais.
Ouvido pelo Valor, o presidente de uma grande construtora prestadora
de serviços do Estado diz que apoia a medida. Para ele, o governador tem
que utilizar as armas que possui para conseguir recuperar suas
receitas. "É a imagem do Brasil que está em jogo", afirma, em referência
à possibilidade de atrasos em obras para a Copa ou a Olimpíada. Hoje, segundo fontes do setor, as maiores construtoras com contratos
com o Estado são Odebrecht, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão, Carioca
Engenharia e OAS. Outro executivo do setor diz ainda que a decisão tem a
função de exercer pressão, mas ele acredita que, no fim, o governador
deve cumprir os acordos com as empresas em grandes obras. "É jogo de
cena", afirma a fonte.
A Secretaria Estadual de Fazenda informou que a suspensão dos
pagamentos é uma medida preventiva para evitar desrespeitos à Lei de
Responsabilidade Fiscal. "Os pagamentos estão suspensos até que se tenha
clareza do fluxo de recursos com que o Estado poderá efetivamente
contar para honrar seus compromissos. O montante programado para hoje
era de R$ 82 milhões e a previsão para o mês é de R$ 470 milhões, valor
que não incorpora a folha de ativos e inativos [R$ 1,7 bilhão] e as
transferências para municípios [R$ 922 milhões]", informou a secretaria
por nota.
O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), também avisou
que será preciso cortar despesas e investimentos do Estado para
compensar a perda de receitas. Ele disse que já determinou o
congelamento de R$ 200 milhões do Orçamento do Estado. Foram
contingenciados 10% dos gastos previstos para custeio da máquina. A
expectativa é que a mudança na regra de distribuição das receitas cause
perdas de R$ 400 milhões ao Estado este ano.
Depois da derrota no Congresso, a bancada fluminense, entrou com a
primeira ação no Supremo. Os deputados e senadores pediram a anulação da
sessão porque o presidente Renan Calheiros (PMDB) teria descumprido
normas regimentais durante a sessão de votação. Entre outros argumentos,
a bancada reclama que houve restrição de manifestação e que não foram
criadas comissões mistas para avaliar os 142 vetos da presidente Dilma
Rousseff (PT).
Cabral também disse já estar pronto para recorrer ao Supremo assim que
a legislação for promulgada. "Estamos só esperando a publicação para
entrar com o recurso". Cabral estima que o julgamento pode ocorrer logo
em razão, da "urgência do tema". Segundo Cabral os parlamentares
desrespeitaram três artigos da Constituição: o artigo 5 que cria o ato
perfeito jurídico, o 20 que não permite que se coloque à disposição
recursos de seus Estados originários, e o 167, que proíbe o
desequilíbrio orçamentário.
"Esta derrota gera o caos no Rio. Leva à falência pelo menos metade
dos 87 municípios que recebem os royalties. Para eles a receita é
significativa", afirma Cabral. Segundo Cabral, a nova lei retira 25% da
receita líquida total do Estado. "Nós somos o principal teatro de
operações do petróleo no país. Nós não inventamos os royalties. É assim
no mundo inteiro. Temos um conjunto de ações que podem ser tomadas, como
reduzir incentivos fiscais."
Fonte: Jornal Valor Econômico
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