O economista e professor da UFRJ Mauro Osório, especialista em
planejamento urbano e estudos sobre o Rio, diz que a percepção de que o
Estado do Rio e suas municipalidades brigam por privilégios inaceitáveis
está “ancorada em equívocos”, e demonstra que muitos deles têm origem
em distorções de cunho político e econômico. O primeiro equívoco é o de
que o estado já disporia de boa soma de recursos públicos e teria
inclusive uma das maiores cargas tributárias no cenário federativo.
Essa
versão foi divulgada há alguns anos pelo Banco Mundial e pelo Ipea, mas
Osório diz que, quando comparamos a carga tributária das 27 unidades
federativas brasileiras, o Estado do Rio fica apenas na 21ª posição. Na
versão do Ipea, as duas maiores cargas tributárias seriam a do Distrito
Federal e a do Rio. Curiosamente, a capital e uma ex-capital do país.
“Provavelmente,
relacionaram equivocadamente alguma contribuição arrecadada nessas
regiões, mas diretamente direcionada ao poder federal”.
Reforçando
a tese de que não temos privilégio tributário, ao estudarmos a receita
pública municipal per capita, através de dados do Finbra/MF, vemos que,
na média, a totalidade dos municípios fluminenses apresentou, no ano de
2011, uma receita pública per capita de R$ 2.160,10, contra uma receita
pública per capita para a totalidade dos municípios da Região Sudeste de
R$ 2.009,67.
Ou seja, a receita pública média dos municípios do
Rio é bastante próxima à média dos municípios dos demais estados da
Região Sudeste.
Não existe, por exemplo, uma situação de
privilégio no Estado do Rio relativamente a Minas, como afirmou nos
debates, no dia da votação, uma deputada federal mineira.
O que
temos são alguns poucos municípios com privilégio do ponto de vista da
receita pública. Entre os municípios com alta receita pública,
principalmente advinda dos royalties, Osório cita Quissamã, Macaé e
Armação dos Búzios, com receitas públicas, em 2011, de, respectivamente,
R$ 10.225,11; R$ 7.296,35; e R$ 5.681,94.
No entanto, ressalva
Mauro Osório, temos que ter claro que os privilégios em termos de
receita pública entre os municípios fluminenses são a exceção e não a
regra. Fazendo um ranking, por exemplo, dos municípios da Região Sudeste
com maior receita pública per capita, vemos, entre os 20 primeiros
colocados, Quissamã na 5ª posição, Macaé na 11ª e Búzios na 20ª.
Além
desses municípios fluminenses, verifica-se apenas Porto Real, na 4ª
posição, mas a sua forte receita pública per capita municipal advém do
fato de estar instalada em seu território a Peugeot Citroën.
Nesse
ranking, aparecem nas três primeiras posições os municípios de
Presidente Kennedy (ES); São Gonçalo do Rio Abaixo (MG); e Paulínia
(SP).
O que ocorre no Estado do Rio é uma má distribuição das
receitas de royalties interna, entre os municípios, explica Osório. “Mas
o estado como um todo não apresenta qualquer privilégio tributário no
cenário federativo”.
Além disso, há diversos municípios,
principalmente na periferia da Região Metropolitana do Rio, com uma
receita pública per capita extremamente baixa, sendo inclusive que, em
2011, populosos municípios da periferia da Região Metropolitana — São
Gonçalo, São João de Meriti, Belford Roxo e Nova Iguaçu — possuíam uma
receita pública per capita inferior a R$ 1.000,00.
Isso ocorre,
além do fato da má distribuição dos royalties internamente no Estado do
Rio, principalmente, pela regra brasileira atual do Fundo de
Participação dos Municípios, prejudicial aos municípios com grande
densidade populacional. “Ou seja, não é razoável discutir a questão dos
royalties como se eles fossem a única receita municipal e não levando em
conta a necessidade de discutir também a regra atual de partição dos
recursos do Fundo de Participação dos Municípios e também o dos
Estados”, adverte.
Com relação aos municípios, ele diz que a
situação é ainda mais grave, pois a maioria dos municípios fluminenses
possui dependência dos royalties igual ou superior a 10% do total da
receita pública municipal.
Entre os dez municípios mais
dependentes de royalties, o quadro de dependência percentual é a
seguinte: São João da Barra, 74,2%; Campos, 61,2%; Rio das Ostras,
56,5%; Casimiro de Abreu, 48,3%; Carapebus, 44,8%; Quissamã, 43,7%; Cabo
Frio, 40,9%; Armação dos Búzios, 40,3%; Parati, 36%; e Silva Jardim,
35%.
Para ler a notícia diretamente no site, clique aqui.
|