O ambiente de desorganização das finanças dos estados e municípios
que podem ser afetados pela decisão do Congresso de redistribuir as
receitas de royalties e participações especiais oriundas da produção de
petróleo e gás no mar já está instalado -, como se previa antes da
votação que derrubou os vetos da presidente Dilma aos dispositivos que
afetam os contratos em curso.
As receitas de royalties são vinculadas obrigatoriamente a
investimentos e ao pagamento de dívidas. Em 2012, no caso do Rio de
Janeiro, do total de royalties recebidos pelo Tesouro estadual, R$ 2,17
bilhões foram destinados à amortização de parte da dívida com a União,
com base em contrato de renegociação firmado há tempos, e que vincula
tais receitas a esse tipo de quitação pelos próximos anos. Também no
ano passado, R$ 5,25 bilhões se destinaram à capitalização do fundo
previdenciário do qual saem os pagamentos de aposentadorias e pensões
dos funcionários inativos. Ainda da parcela estadual, R$ 429 milhões
foram transferidos a municípios fluminenses, e R$ 395 milhões (o
equivalente a 5%) entraram para o Fundo de Conservação Ambiental
(Fecam). A parcela de R$ 79 milhões, ou seja 1%, se destinou ao Pasep,
por determinação de lei federal.
Despesas dessa magnitude precisam, é claro, de uma programação de
longo prazo, com fontes de receitas bem definidas. A vinculação dos
royalties a esses gastos foi a forma correta que o Estado do Rio
encontrou para assegurar tais pagamentos, permitindo que outras
receitas pudessem custear investimentos.
Com a incerteza orçamentária criada pela decisão do Congresso, a
continuidade desses investimentos ficou ameaçada, o que é dramático
para um estado que passou por décadas de decadência econômica e social e
se esforça para atingir um grau de recuperação que impeça a reversão
desse processo. Na verdade, o corte de receitas que o Congresso deseja
impor ao Rio de Janeiro elimina totalmente a capacidade de investimento
do governo estadual. Não se trata de retórica ou jogo de cena. Daí o
governador Sérgio Cabral ter tomado uma atitude tão dramática de
suspender pagamentos temporariamente até que o Supremo Tribunal Federal
se pronuncie sobre toda essa questão. Se, como determinado pelo que
foi aprovado no Congresso - e, por enquanto, tudo depende do STF -, a
participação do Rio de Janeiro diminuir sobre os royalties gerados pela
produção de petróleo e gás ao longo da costa, o Estado, de fato, não
terá recursos para cumprir todos os compromisso já assumidos. A
situação não é muito diferente no Espírito Santo e nos municípios
fluminenses e capixabas, para os quais a receita de royalties é muito
relevante.
Não é uma situação com a qual se possa conviver por muito tempo.
Fonte: Jornal O Globo
|