O governador do Rio, Sérgio Cabral Filho, não se conforma. E pelo
tamanho do prejuízo imposto pela nova lei de distribuição dos royalties
decorrentes da exploração dos campos de petróleo, não seria mesmo o caso
de se conformar.
Junto com São Paulo e Espírito Santo, vai buscar os direitos devidos onde se deve: na Justiça.
Dificilmente o Supremo Tribunal Federal vai anular a decisão do
Congresso, que aproveitou o ensejo da mudança da lei para achar uma
maneira de engordar (um pouco) os cofres dos estados não produtores, mas
provavelmente invalide a parte que atinge contratos já em vigor a fim
de preservar o direito adquirido.
Muito já se falou sobre os equívocos de origem e outros cometidos ao
longo do processo. A iniciativa do governo de mudar a regra deixando
brechas abertas para o desfecho que se viu, o excesso de confiança do
governador no “combinado” com o então presidente Lula, a recusa do
Planalto de enfrentar a maioria e exercer seu poder moderador em nome do
equilíbrio federativo foram alguns deles, senão os principais.
Cabral agiu como se não houvesse o Congresso. Confiou na influência
de Lula ou sabe-se lá em quais métodos que imaginou serem usados pelo
Planalto para não pôr em risco as receitas dos produtores de petróleo.
Considerando que não é ingênuo, o governador achou mesmo que o
presidencialismo imperial seria cláusula pétrea.
Com o risco enorme de, como agora alega, levar o Rio de Janeiro à
falência, pode- se dizer que Sérgio Cabral atuou no limite da
irresponsabilidade. Não fez a boa política. Bravateou e afrontou o tempo
inteiro. Quando o Senado votou a alteração que permitia a mudança dos
campos já licitados, chamou a decisão de “indecente” e “indecorosa”.
Pode ser até que não adiantasse nada parlamentar, dado o ímpeto da
maioria em tirar muito de poucos e dar pouquíssimo a muitos. Preferiu o
confronto, os gestos largos e as palavras contundentes à tentativa de
abrir a via da composição.
Mas está feito. O prejuízo é monumental, a inconstitucionalidade do
avanço da partilha sobre áreas já licitadas parece evidente, mas o
governador Sérgio Cabral continua a confrontar.
Mandou cortar todos os pagamentos do estado (recuou, por óbvio, nas
áreas de Saúde e Educação), um secretário dele ameaçou com a criação de
um “pacote de maldades”, estabeleceu-se um clima de vingança que atinge a
quem não tem diretamente nada com isso e um clamor social que, embora
justificado, seleciona alvos, deixando alguns deles fora do foco dos
protestos.
Se a ideia é – como parece ser – pôr a faca no pescoço do Supremo
Tribunal Federal, não é o caminho mais eficaz porquanto seja o mais
desrespeitoso. O STF decidirá de acordo com a Constituição e, sabemos
todo o fim da história se realmente parte das perdas for mantida.
A União, a sociedade como um todo, acaba pagando a conta, conforme
atesta o economista Raul Veloso: “Já vimos acontecer e, nesse caso, quem
paga são os investimentos em infraestrutura”.
Afinal, o Rio é o terceiro colégio eleitoral do país, São Paulo é o
primeiro, Cabral é amigo do peito do presidente emérito e peça
indispensável à reeleição da presidente de direito. Muito mais
importante que a perspectiva de aumento do déficit público.
Raul Veloso que, descontado o jogo político, acha que faz sentido
Cabral preparar o ajuste de contas estaduais, introduz um argumento de
racionalidade no debate.
“O pior é que não está sendo feito o que deveria: como o petróleo
acaba, o adequado seria criar um fundo para abrigar esses royalties e
depois aplicar o dinheiro com retorno para que as gerações futuras sejam
ao menos parcialmente compensadas pelo consumo predatório da geração
presente.”
Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo
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