Depois de tanta insensatez, ressurgiu a primeira fresta de
racionalidade na disputa pelos royalties do petróleo e gás. O governador
de Santa Catarina, Raimundo Colombo, reconheceu que o embate
desequilibra as finanças dos estados e municípios produtores, e, diante
da batalha judicial que se desenha, os não produtores provavelmente não
terão benefícios no curto prazo. Santa Catarina, por sinal, se tornou
também um estado produtor de petróleo no mar e já tem condições de
avaliar qual seria o impacto da decisão do Congresso, se mantida como
tal. Outro governador, Eduardo Campos, de Pernambuco, que havia sido um
dos líderes políticos dessa campanha massacrante contra os estados
produtores, também mudou o discurso e, em tom conciliador, agora propõe
levar ao Palácio do Planalto uma solução que leve em conta regras dos
contratos em vigor.
A solução negociada politicamente é a melhor
saída para esse confronto que transformou a população dos estados e
municípios produtores de petróleo no mar em brasileiros de segunda
classe. A receita de royalties certamente se tornará mais substantiva no
futuro e sobre a nova repartição dessa receita não havia mais
resistência por parte dos produtores. O motivo principal da disputa não
está no futuro, mas sim no passado. O Congresso aprovou a repartição dos
recursos provenientes dos contratos já em andamento, subtraindo dos
produtores parcela expressiva da receita estimada mesmo para o atual
exercício, o que é inadmissível moralmente, do ponto de vista da ética
na política, e irresponsável pelo ângulo fiscal.
No fundo dessa
questão, está a necessidade dos entes federativos reforçarem o quanto
antes sua arrecadação. O elo mais fraco acabou atacado, pois contra a
frente avassaladora formada no Congresso, Rio de Janeiro e Espírito
Santo não tiveram a menor possibilidade de defesa, mesmo ajudados por
São Paulo, no último momento.
Se for possível encontrar uma
solução negociada que evite a batalha no Supremo Tribunal Federal, tanto
melhor. Questões federativas devem ser resolvidas por acordo no âmbito
político, e não nos tribunais. Os interesses dos entes federativas nem
sempre são coincidentes, mas o que se espera dentro de uma federação é
que haja um espírito de entendimento capaz de buscar a conciliação, em
vez do confronto.
À União cabe um papel chave na superação dos
embates, evitando que cheguem ao estágio final desse confronto. Os
royalties foram um caminho equivocado para que os entes federativos
manifestassem o descontamento em relação à repartição das receitas
públicas. Assim, sem participação do governo federal, que falhou na
tentativas anteriores, ficará mais difícil se chegar a um acordo para
superação do atual impasse em torno dos royalties. Que o calendário
eleitoral, antecipado pelo próprio Planalto, não prejudique a
possibilidade de solução, necessária para assegurar tranquilidade aos
investimentos que a indústria do petróleo se dispõe a promover em todo o
Brasil.
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