Uma reunião de governadores, realizada anteontem em Brasília, engatou
uma contramarcha na votação da medida provisória 599, que unifica as
alíquotas interestaduais do ICMS em 4%. Miopia e interesses locais,
assim, devem retirar da pauta do Congresso a principal iniciativa para
acabar com a guerra fiscal e a insegurança sobre as regras desse
imposto.
Segundo o Ministério da Fazenda, 20 dos 27 Estados seriam beneficiados.
Os perdedores contariam com um fundo de R$ 296 bilhões, para
compensações por quebra de receitas ao longo de 20 anos.
As resistências mais fortes partem de Estados do Norte, Nordeste e
Centro-Oeste. Eles querem preservar o arbítrio sobre o imposto para
poder distribuir incentivos fiscais e, com isso, atrair empresas
sediadas em outras unidades da Federação -política que a literatura
econômica batizou como a de "empobrecer o seu vizinho".
Esse lobby omite que o suposto direito de definir a alíquota do ICMS à
revelia do Conselho Nacional de Política Fazendária foi julgado
inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal. Alguns Estados chegaram
ao ponto de isentar importações para atrair outras receitas a suas
fronteiras, o que barateia produtos estrangeiros e traz prejuízo direto
às empresas brasileiras -prática em boa hora banida.
A unificação das alíquotas do ICMS nos termos propostos pelo Planalto é
apenas mais um capítulo da disputa irracional pelo bolo da arrecadação
federal. Os governadores, paroquial e compreensivelmente, só têm olhos
para as reformas que lhes tragam receita.
Além do ICMS, a lista inclui a redistribuição dos royalties do petróleo e
as regras de partilha do Fundo de Participação dos Estados. Neste caso
último caso, nem a determinação do Supremo de que novos critérios de
rateio fossem votados pelo Congresso até o final de 2012 foi acatada.
A escalada do conflito do petróleo, com a derrubada do veto presidencial
à redistribuição das receitas, atesta o estrago causado pela omissão do
Planalto. A questão federativa é importante demais para ser relegada ao
oportunismo dos governadores e das bancadas estaduais no Congresso.
O correto seria considerar em conjunto todos o ganhos e perdas das
várias pendências e promover, por mais difícil que pareça, um encontro
de contas combinado com ampla reforma tributária e fiscal.
A União detém o trunfo de refinanciar dívidas estaduais a taxas mais
baixas. Mas, se não se articular no Parlamento, pode perder a chance de
usá-lo pelo bem comum.
Para ler a notícia diretamente no site da Folha de S. Paulo, clique aqui.
|