O senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) e o deputado Carlos Zarattini (PT-SP) -
respectivamente presidente e relator da comissão mista encarregada de
dar parecer à Medida Provisória que, entre outras coisas, destina a
renda estadual futura do petróleo ao setor educacional-, buscam
condições para nova negociação entre União, Estados produtores (ou
confrontantes) e demais unidades da federação pela repartição de
royalties e participações especiais (PE) pagos pelas empresas para
explorar o produto.
O primeiro passo foi remarcar a apresentação
do parecer de Zarattini do dia 4 para o dia 15 de abril. O objetivo é
ganhar tempo para que o Supremo Tribunal Federal (STF) julgue o mérito
da ação direta de inconstitucionalidade proposta pelo governo do Estado
do Rio de Janeiro contra a mudança da regra de distribuição da renda
petrolífera dos campos atuais. Essa norma retira recursos dos Estados e
municípios produtores e faz uma distribuição mais equilibrada entre os
entes da federação.
A avaliação predominante no Congresso é que
uma decisão final do STF não acabará com a disputa entre Estados
produtores e não produtores - que já dura quase cinco anos, desde que o
governo enviou ao Congresso a proposta de mudança do marco regulatório
de exploração do petróleo da camada pré-sal. Ao contrário, deve acirrar o
embate. A MP pode incorporar eventual regra negociada.
Qualquer
entendimento depende da União. Uma ideia é que ela mantenha a disposição
de abrir mão de parte do que recebe em royalties (de 30% para 20%) e em
participações especiais (50% para 42% no primeiro ano), para que o
dinheiro seja repassado diretamente aos Estados e municípios não
produtores.
O total dos recursos cedidos pela União chega a R$
3,5 bilhões em 2013 e R$ 4 bilhões em 2014. É metade do valor que os não
produtores esperavam receber no primeiro ano com a nova regra (R$ 8
bilhões), mas pelo menos a perda não seria total.
"Eu e Zarattini
estamos tentando criar um ambiente de negociação que envolva o
Congresso Nacional. Guardando a independência entre os poderes, é
necessário que haja uma estratégia de solução para este gravíssimo
problema federativo", afirma Vital do Rêgo. Ele e o relator já
conversaram com os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e
da Câmara dos Deputados, Henrique Alves (PMDB-RN). O senador reconhece
que não se pode chamar o STF para uma negociação, mas espera que os
ministros entendam a urgência de uma decisão.
Vitoriosos com a
liminar concedida pela ministra Cármen Lúcia, do STF, suspendendo os
efeitos da lei até o julgamento do mérito, os Estados produtores,
especialmente Rio de Janeiro e Espírito Santo, resistem a uma negociação
agora. Acreditam que serão vitoriosos. A posição manifestada pela
ministra foi considerada muito dura por parlamentares dos Estados não
produtores. A rigor, ela se manifesta contrária à mudança da regra até
para os contratos futuros.
Mesmo que Estados produtores saiam
vencedores dessa fase, mantendo intacta a receita proveniente dos campos
com contratos de exploração já licitados, no Congresso, parlamentares
representantes dos 24 Estados não confrontantes já se preparam para nova
batalha. Articulam aprovação rápida de uma Proposta de Emenda
Constitucional (PEC), já protocolada, mais prejudicial às finanças dos
produtores. Todos os Estados e municípios Incluir a nova regra teriam
tratamento igual. Receberiam pelos fundos de participação dos Estados
(FPE) e dos municípios (FPM).
Atualmente, Estados e municípios
produtores ou afetados pela exploração concentram mais de 60% dos
royalties e 50% de PE. Os demais dividem um fundo especial que totaliza
apenas 8,75% dos royalties e nada recebem de participação especial. Com
os dispositivos aprovados no Congresso, vetados pela presidente Dilma
Rousseff e restabelecidos com a derrubada do veto pelo Congresso, esses
entes ganhariam 40% dos royalties no primeiro ano, chegando a 54% em
2019, e uma parcela de PE.
Fonte: Jornal Valor Econômico
|