A História registra os
fatos e acontecimentos em que o Brasil, por romper contratos, esquecer
as leis e abusar dos "jeitinhos" acaba se saindo mal, cultuando o falso e
as maracutaias. Os episódios se sucedem.
Mas pegou mesmo a frase atribuída erradamente ao general Charles de
Gaulle, presidente da França: "Le Brésil n"est pas un pays serieux" ("O
Brasil não é um país sério"). Até este erro histórico comprova o quanto
subvertemos os fatos e as regras no esforço de agradar a todos, mesmo
que seja decretando o óbito da verdade e da lei. Quem cunhou a célebre
frase foi o embaixador brasileiro na França em 1962, Carlos Alves de
Souza e Filho, em conversa com De Gaulle. Genro do ex-presidente Artur
Bernardes, o diplomata se esforçava pata evitar que a pesca de lagosta
por embarcações francesas na costa brasileira se transformasse numa
verdadeira batalha entre o Brasil, governado por João Goulart, e a
França do general. O caso deu em nada, mas acabou conhecido por Guerra da Lagosta, embora nenhum tiro tenha sido disparado. O embaixador Alves de
Souza, observa o jornalista Antônio Ribeiro, repôs a autoria da frase em
seu livro "Um embaixador em tempos de crise" (Livraria Francisco Alves
Editora, 1979) e lembrou: "A História está cheia desses equívocos." No Brasil, desacertos
assim proliferam a tal ponto que faz sucesso no Facebook o endereço
"Brasil, o país da gambiarra". As gambiarras, aliás, imperam por aqui,
como os "gatos" que infestam comunidades carentes, instituindo o furto a
céu aberto e às claras de energia, com o risco de curto-circuito e
incêndios. E, especialmente,
encontram espaço para crescer e prosperar no Congresso. A sessão em que
deputados e senadores votaram a derrubada do veto da presidente Dilma
Rousseff à "Lei dos Royalties" revela não apenas a força da maioria, que
sempre deve ser respeitada, mas a prevalência de interesses políticos
regionais sobre pilares básicos da Constituição, afetando a imagem do
país mundo afora e atualizando a frase do embaixador que a História
espalhou na voz de De Gaulle. Sem entrar no mérito de
outros vícios de natureza constitucional, fica a mensagem preocupante do
Parlamento: dá para acreditar em um país que não honra compromissos
previamente acertados? A Ministra Cármen Lúcia, ao conceder liminar na Ação direta de inconstitucionalidade ajuizada pelo Governo do Rio, recolocou a questão no trilho traçado pela Constituição de 1988. Assegurou os direitos dos Estados produtores. Pelo menos até o julgamento do mérito pelo plenário do Supremo Tribunal Federal.
E, se o pacto federativo prevalecer, com a confirmação da decisão da
ministra, ficarão inalteradas as regras de distribuição dos royalties e
participações especiais devidos pela exploração do petróleo. O Brasil, então, se firmará como um país confiável e sério.
Fonte: Jornal O Globo
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