Causa preocupação a ideia de conceder a algumas capitais brasileiras uma
flexibilização dos limites de endividamento. O prefeito de São Paulo,
Fernando Haddad (PT), teria obtido sinalização favorável ao pleito do
ministro da Fazenda, Guido Mantega.
Se confirmada, seria mais uma rodada do Programa de Ajuste Fiscal (PAF),
que já beneficiava União e Estados e agora pode chegar também aos
grandes municípios.
O PAF permite contratar ainda mais empréstimos para investir. No ano
passado, o governo federal aprovou R$ 61 bilhões em novas dívidas para
vários Estados. O plano era estimular a economia nacional com a
aceleração dos investimentos -até agora sem sucesso.
Como é praxe no país, o empurrão financeiro tem sido usado mais para
aumentar despesas com pessoal e outras formas de custeio. Reportagem
desta Folha mostrou que o resultado primário dos Estados (saldo
de receitas e despesas antes do pagamento de juros) ficou em 0,43% do
PIB em 2012, pior resultado desde 2000, quando surgiu a Lei de
Responsabilidade Fiscal.
Um exemplo é o Rio de Janeiro de Sérgio Cabral (PMDB), que passou de um
superavit de R$ 2,6 bilhões em 2011 para um rombo de R$ 900 milhões no
ano passado. Os investimentos subiram R$ 600 milhões, enquanto pessoal e
custeio saltavam R$ 4,4 bilhões.
É fato que parte da deterioração decorre da arrecadação mais fraca,
resultado natural do baixo crescimento econômico. A não ser que o PIB
suba acima de 3% em 2013, algo cada vez mais improvável, o quadro
permanecerá preocupante.
Assiste-se a uma contínua piora das contas públicas. Há muito o setor
público (União, Estados e municípios, em conjunto) descumpre a meta de
superavit primário de 3,1% do PIB. Também tem havido piora na
transparência dos dados.
Não por outra razão, o próprio Banco Central adotou novo parâmetro em
suas análises. O chamado "resultado estrutural" busca eliminar o efeito
das manobras contábeis do Planalto e o impacto das oscilações do ciclo
econômico nas contas -por exemplo, quando o crescimento do PIB se
acelera, sobe a arrecadação e fica mais fácil cumprir as metas. Tal é o
efeito que o novo cálculo do BC busca expurgar.
O governo brinca com fogo ao ser leniente com inflação e permitir frouxidão nas contas públicas.
Espera-se que o alerta de alguns tradicionais conselheiros do Planalto
-como Delfim Netto e Luiz Gonzaga Beluzzo-, sobre a necessidade de
apertar a política fiscal, encontre ouvidos preparados na presidente
Dilma Rousseff e em tempo de evitar danos maiores à confiança na
economia brasileira.
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