RIO - Autoridades e servidores do estado processados na esfera cível
ou criminal deverão ter um reforço nas suas defesas nos tribunais de
Justiça. O governador Sérgio Cabral enviou para a Alerj, em regime de
urgência, um projeto de lei que quadruplica o valor que o estado poderá
desembolsar para pagar escritórios de advocacia contratados por esses
funcionários. A proposta altera uma lei já em vigor desde 2006, que
estabeleceu esse benefício e definiu a tabela de honorários da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB-RJ) como os valores de referência.
O
projeto, que já recebeu 45 emendas, está previsto para ser votado na
quarta-feira. Caso ele seja aprovado, os valores pagos por uma defesa
numa ação de improbidade administrativa, por exemplo, passarão de R$
2.826 (parâmetro da OAB) para R$ 11.304. Nesse tipo de ação, contudo, há
outra forma de negociação. Muitas vezes, os advogados preferem cobrar
20% do valor da condenação. Pela nova proposta, caso uma autoridade do
estado ou um servidor tenha que responder a um processo criminal, os
valores de referência para o pagamento dos advogados passam dos atuais
R$ 7.104 (tabela da OAB) para R$ 28.416.
Sem licitação
Além
de ampliar os valores, o projeto mantém a dispensa de licitação para
contratar os advogados. Com isso, os funcionários podem escolher os
escritórios que preferirem e solicitar ao estado que pague as despesas.
Pela proposta do governo, só poderão se beneficiar servidores e
autoridades que responderem a ações por conta de decisões tomadas
durante o exercício das suas atividades. Caso sejam condenados, eles
terão que devolver ao estado o dinheiro, mas em prestações. Outro ponto
polêmico do projeto estabelece que os funcionários que responderem a
ações por não cumprirem a exigência de prestarem informação também
poderão solicitar o benefício.
A lei de 2006, que criou o
benefício para os servidores, foi apresentada pelos deputados Luiz Paulo
Corrêa da Rocha (PSDB) e Edson Albertassi (PMDB) — este último
integrante à época da base do governo Rosinha Garotinho. Após ser
aprovada na Alerj, a medida foi sancionada pela então governadora. Em
nota, o atual governo informou que a nova proposta foi apresentada
porque a tabela da OAB apresenta valores muito “baixos para o nível de
complexidade normalmente envolvidos em processos relacionados aos
servidores” e que “os honorários cobrados pelos advogados são, em geral,
superiores à remuneração do servidor”.
Contratos de até R$ 10 mil
Perguntado
por que a medida foi proposta, uma vez que a Defensoria Pública atua
gratuitamente, o governo explicou que esse órgão deve atender quem não
tem condições financeiras de pagar por um advogado, o que “não é o caso
dos servidores”. O governo informou que, desde 2007, seis servidores
requereram o pagamento de escritórios de advocacia e, em nenhum dos
casos, a contratação ultrapassou R$ 10 mil.
Um dos autores da lei
de 2006, o deputado Luiz Paulo Corrêa disse que pretende agora votar
contra a medida, por conta do aumento de quatro vezes no valor da tabela
OAB:
— Apresentei emenda para retirar esse aumento e exigir que a
contratação seja por processo licitatório. A maior parte das ações é
por improbidade administrativa, ou seja, no campo do direito
administrativo, em que inúmeros advogados podem atuar.
Para o
deputado Marcelo Freixo (PSOL), o atual projeto é “temerário”. Segundo
ele, a dispensa de licitação pode ser um caminho para a contratação de
escritórios ligados a autoridades do estado:
— O ponto que
considero pior na proposta é a ausência de licitação e a falta de
transparência nesse processo. Há muitos escritórios publicamente
vinculados a pessoas públicas do estado. Por isso, votarei contra a
proposta.
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