O Congresso Nacional começa a semana com uma tarefa inadiável:
impedir que os 26 estados e o Distrito Federal fiquem impossibilitados
de receber, a partir de 23 de junho, as parcelas mensais de um bolo que
em 2012 somou cerca de R$ 50 bilhões.
Trata-se do Fundo de Participação do Estados (FPE), que, para as
unidades mais pobres da Federação, funciona como injeção na veia dos
orçamentos. Com fôlego limitado para investir em obras de
infraestrutura, sem os repasses do fundo, muitos governadores passariam
dificuldade até para quitar as despesas normais de custeio da máquina
(professores, policiais, médicos, enfermeiros, fiscais e pessoal da
administração).
O FPE é formado por parcelas de dois impostos federais, conforme
determinado pela Constituição. São 21,5% da arrecadação do Imposto de Renda e do Imposto
sobre Produtos Industrializados (IPI). O problema está na definição de
quanto cada unidade da Federação tem a receber mensalmente.
Os cálculos eram feitos pelo Tribunal de Contas da União (TCU), com
base em critérios estabelecidos em lei complementar em vigor desde
1989, ano seguinte ao da promulgação da Carta. O problema é que, em
2010, julgando ações diretas de inconstitucionalidade defendidas pelos
estados do Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Goiás, o Supremo Tribunal
Federal (STF) julgou que os critérios originais eram provisórios e
estavam vencidos.
De fato, eles se apoiavam em dados sobre a renda da população
apurada na década de 1980 e vinham orientando o cálculo da participação
de cada estado observando a regra maior de privilegiar as regiões mais
pobres. Por esse critério, 52,46% dos repasses foram destinados ao
Nordeste, 25,37% ao Norte e 7,17% ao Centro-Oeste, somando 85%. Os
restantes 15% foram distribuídos entre o Sudeste (8,48%) e o Sul
(6,52%).
O STF determinou que novos critérios fossem estabelecidos pelo
Congresso até 31 de dezembro de 2012, mas o Legislativo passou longe de
acordo sobre as novas regras, e o prazo foi prorrogado até 23 de
junho, período em foram mantidos os critérios antigos de rateio. Até
lá, com a tolerância de mais alguns dias pelo STF, a lei terá de ser
votada pelas duas Casas do Congresso.
Não será tarefa fácil. Tão ou mais explosiva do que a distribuição
mais justa dos royalties do petróleo, essa matéria transcende a questão
partidária e tende a se transformar em guerra entre os estados.
Afinal, ninguém quer ganhar menos do que
recebe hoje. Mas o parlamento não tem como deixar de pagar agora pela
inapetência para enfrentar temas polêmicos. Não há mais adiamentos
possíveis. À representação popular caberá buscar solução mais justa e
mais equilibrada. Esse é, aliás, o papel para o qual deputados e
senadores são eleitos e mantidos pelo povo.
Fonte: Jornal do Commercio
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