Contrariando a intenção manifestada pela presidente Dilma Rousseff de
destinar 100% dos recursos dos royalties do petróleo para a Educação, a
Câmara dos Deputados aprovou, na madrugada de hoje, proposta que obriga a
destinação de 75% destas receitas à Educação e os outros 25% para a
Saúde. Além disso, o projeto aprovado criou um gatilho que vincula a
aplicação de 50% dos recursos do Fundo Social (criado com as novas
regras de exploração do pré-sal) ao cumprimento da meta de investir 10%
do PIB em Educação, prevista no Plano Nacional de Educação (PNE). O
projeto agora terá de ser aprovado pelo Senado.
A proposta original da presidente Dilma destinava à Educação apenas os
"rendimentos" de 50% do Fundo Social. Com a mudança do texto na Câmara,
os valores vão subir consideravelmente. O autor do novo texto é o líder
do PDT, deputado André Figueiredo (CE). Ele disse acreditar que as
mudanças trarão mais cerca de R$ 280 bilhões para as áreas de Educação e
Saúde. A proposta original do governo previa mais R$ 25,8 bilhões em
dez anos.
Apesar de o projeto ter sido aprovado em votação simbólica, o líder do
governo na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), avisou que o
governo não tem compromisso com as mudanças no texto, sinalizando que
Dilma poderá vetar alguns trechos.
- O governo não tem nenhum compromisso. Queremos 100% para a Educação - disse Chinaglia.
Os novos percentuais de destinação dos royalties foram negociados entre os partidos governistas e a oposição.
No caso do Fundo Social, a proposta prevê que serão destinados à
Educação 50% dos recursos do fundo, que foi criado com as regras de
exploração do pré-sal. Esta é uma mudança substancial no texto da
presidente Dilma, que previa a destinação apenas dos rendimentos do
Fundo Social, ou seja, um valor bem menor.
Alves tentou retirar urgência Pelo novo texto, os 50% dos recursos do Fundo Social serão destinados à
Educação até o cumprimento da meta de investimentos de 7% do PIB em
Educação, em cinco anos, e de 10% do PIB, em dez anos. Estas metas estão
no Plano Nacional da Educação, que foi aprovado na Câmara e que está
tramitando no Senado. O governo é contra essas metas. Outra mudança aprovada na Câmara foi no tipo de contrato. No primeiro
artigo, o projeto prevê que serão destinadas a Educação e Saúde as
receitas provenientes dos royalties relativas a áreas cuja declaração de
comercialidade tenha ocorrido a partir de 3 de dezembro de 2012,
relativas a contratos celebrados sob os regimes de concessão e de
partilha de produção.
O projeto sobre a destinação dos recursos dos royalties foi enviado ao
Congresso pela presidente Dilma Rousseff com urgência constitucional, e
anunciado com pompa pelo governo.
Os parlamentares sustentaram que a Saúde também precisa se recursos e
não apenas a área da Educação. Nos bastidores, os líderes governistas
concordaram com a nova divisão dos percentuais, já que havia o risco de o
projeto do governo ser derrotado, e de ser aprovado um substitutivo que
daria mais problemas ao governo.
A proposta de investimentos também em Saúde foi apresentada formalmente
pelo líder do DEM, deputado Ronaldo Caiado (GO), mas teve o apoio de
líderes da base aliada, como o líder do PMDB na Câmara, deputado Eduardo
Cunha (RJ). A bancada da Saúde tem até mais peso na Câmara que a da
Educação.
Assessores do Ministério da Educação criticaram o acordo feito em torno
do novo texto. A avaliação é de que o item que mais preocupa é
justamente a mudança na destinação do Fundo Social, ao fazer a
vinculação com as metas do PNE. O presidente da Câmara, deputado
Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), chegou a negociar o cancelamento da
votação, com a retirada da urgência constitucional, para votar primeiro
projeto sobre critérios de repasse do Fundo de Participação dos Estados
(FPE). Mas o próprio PT fez um acordo em torno do novo texto, derrubando
a estratégia de Alves.
Fonte: Jornal O Globo
|