Em depoimento à Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos
Deputados, o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, assegurou ontem que o
governo perseguirá este ano o objetivo de fechar as contas públicas com
um superávit primário equivalente a 3,1% do Produto Interno Bruto, ou
2,3% do PIB, depois de descontadas algumas desonerações e investimentos
passíveis desse desconto, conforme autoriza a legislação. Espera-se que a
promessa seja agora de fato para valer, pois, nos dois exercícios
anteriores, as autoridades só conseguiram alcançar formalmente os
objetivos propostos com ajustes na contabilidade das finanças públicas
que repercutiram muito mal nos mercados e entre os especialistas no
tema. Tal expediente passou a ser rotulado, pejorativamente, de
“contabilidade criativa”, mostrando que a iniciativa foi um tiro no pé,
que apenas contribuiu para desacreditar a política fiscal.
O
superávit primário não é somente uma questão contábil. Seu papel
macroeconômico é criar um excedente financeiro que reduza as
necessidades de financiamento do setor público, de modo que a poupança
doméstica disponível se desloque para investimentos mais eficazes. Como
grande devedor, se o setor público reduz suas necessidades de
financiamento, haverá menos pressão sobre as taxas de juros.
Esse
excedente não se forma da noite para o dia, no encerramento do exercício
fiscal. É construído mês a mês, dia a dia, dosando-se receitas e
despesas. Pela trajetória da arrecadação e dos gastos é possível se
estimar se os objetivos serão realmente atingidos ou se haverá “uma
conta de chegar”. De janeiro a maio, por exemplo, as receitas do governo
federal evoluíram 7,3%, enquanto as despesas aumentaram 12,8%, quando
comparadas a igual período do ano passado. O superávit primário então
encolheu (29%).
Não por acaso agências internacionais de avaliação
de risco rebaixaram o conceito da economia brasileira e o puseram em
perspectiva negativa, dado que a política fiscal, antes um dos alicerces
do processo de recuperação, passou a ser uma incógnita. E o pior é que
esse descrédito se acentuou em momento delicado no cenário econômico
internacional e de grande dificuldade de se controlar internamente a
inflação (um quadro no qual se deveria esperar mais contribuição das
finanças públicas na busca de um novo equilíbrio).
Como resposta
ao clamor das ruas, a presidente Dilma propôs a governadores e prefeitos
um pacto de responsabilidade fiscal. Nunca é tarde para se repor ordem
às finanças públicas. E o exemplo deveria partir do próprio governo
federal, o que depende apenas de decisões que partam do Palácio do
Planalto.
Este pacto, portanto, é de um lado só. Basta vontade política da presidente para fazê-lo.
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