Ainda de olho nas demandas sociais que apareceram em faixas, cartazes e
gritos de ordem nas ruas do país, nas últimas semanas, o Congresso
Nacional retoma hoje a pauta “positiva” de votações. Essa agenda de
resposta aos apelos das manifestações populares começou, na semana
passada, com o enterro da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 37,
que restringia o poder de investigação do Ministério Público e outros
órgãos de fiscalização que possuem procuradorias, como o Banco Central, a
Receita Federal e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Passarão
pelos plenários e pelas comissões da Câmara e do Senado propostas que
visam agradar eleitores e evitar novos protestos, exemplo da que torna a
corrupção um crime hediondo. O recesso parlamentar poderá ser cancelado
para que as análises dos temas sejam concluídas.
Na Câmara, os deputados devem aprovar ainda hoje o Estatuto da
Juventude, que garante a meia-entrada em eventos culturais e esportivos
para jovens entre 15 e 29 anos, de baixa renda, e a reserva gratuita de
dois assentos em ônibus interestaduais para esse público. Haverá também o
esforço para concluir a votação do projeto, já aprovado no Senado, que
aumenta a pena para quem agir ilegalmente contra a administração
pública, ou praticar homicídio simples, crimes que passarão a ser
considerados hediondos.
Nessa lista, estão incluídos a corrupção ativa e passiva, o peculato
(desvio de dinheiro por funcionário ou agente público), a concussão
(quando um funcionário público obtém dinheiro ou vantagem indevidamente)
e o excesso de exação (espécie de cobrança de propina). Os condenados
por esses delitos não terão mais direito a benefícios, como a libertação
ao pagar fiança e a anistia. Se não houver mudanças, o texto seguirá
para sanção presidencial após aprovado. O líder do DEM, Ronaldo Caiado
(GO), diz ser preciso ter cautela ao considerar a aprovação de tais
projetos a solução para o país. “O Brasil já tem uma tonelada de leis
aprovadas, o que precisa é haver agilidade no Judiciário para acabar com
essa sensação de impunidade”, comenta.
Os parlamentares pretendem ainda definir se extinguem a multa adicional
de 10% do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), no caso de
demissão sem justa causa, ou se a direcionam para subsidiar empréstimos à
população de baixa renda, no programa Minha Casa, Minha Vida. “A reação
do parlamento começou à altura do pedido das ruas, mas espero que tenha
continuidade”, destaca o presidente da Comissão de Constituição e
Justiça (CCJ), Décio Lima (PT-RS). “Uma das contribuições da CCJ foi a
aprovação do fim do voto secreto e, na próxima semana, queremos votar o
fim do foro privilegiado”.
O Senado deve começar a semana pela análise da PEC que proíbe pessoas
com ficha suja — condenados pela Justiça ou cassados pelos conselhos
profissionais — de assumirem cargos comissionados ou função de confiança
em órgãos públicos de todo o país. Na CCJ da Casa, poderá ser votada,
amanhã, a proposta que estende os critérios da Lei da Ficha Limpa também
aos cargos comissionados dos gabinetes dos senadores, das lideranças
partidárias e da Mesa Diretora. Ficará impedido de ocupar a vaga quem
tiver condenação transitada em julgado ou por órgão colegiado e, ainda,
quem tiver passado por cargo eletivo e renunciado para escapar da
cassação ou tiver perdido o mandato por quebra de decoro.
Os senadores também devem encerrar a votação da proposta que destina os
royalties do petróleo para a educação e a saúde, já aprovada na Câmara.
Também amanhã, deve ser aprovado o texto que concede o passe livre no
transporte público para estudantes do ensino fundamental, médio e
superior. A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) deve ainda analisar o
projeto que concede benefícios fiscais para empresas de transporte
coletivo para reduzir as tarifas. Se aprovada, a matéria segue para a
Câmara.
Fonte: Jornal do Commercio
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