O inchaço da máquina pública, evidenciado no governo federal pelo
aumento no número de servidores e pelo excesso de ministérios, é prática
recorrente também nas administrações estaduais. Levantamento feito pelo
GLOBO mostra que alguns governos de estado também mantêm elevado número
de secretarias, muitas com funções quase idênticas, para abrigar
aliados. Além disso, dados de 22 unidades da Federação revelam que as
despesas com pessoal avançam em ritmo mais acelerado do que a
arrecadação, reduzindo a cada ano o fôlego para investimentos.
No
levantamento do número de secretarias, o Distrito Federal é o
recordista - são 36 pastas, só três a menos que as do governo federal
(39). Onze secretarias foram criadas na atual gestão do governador
Agnelo Queiroz (PT). Em seguida no ranking aparecem Maranhão e Paraná,
com 33 e 29 pastas, respectivamente.
No organograma dos governos,
O GLOBO ainda encontrou secretarias de estado com funções muito
parecidas. No Maranhão, por exemplo, duas secretarias - Assuntos
Políticos e Articulação Institucional - têm exatamente a mesma função,
conforme descrito no site do governo: "fortalecer as relações
institucionais entre os poderes nas esferas estadual, federal e
municipal". O governo maranhense informou que a informação no portal da
gestão está equivocada e que a função da segunda pasta é ser "elo do
governo com a sociedade civil". No estado, o cerimonial da governadora
Roseana Sarney (PMDB) tem status de secretaria extraordinária.
No
Paraná, há, além da Casa Civil e da Secretaria de Governo, a Secretaria
da Chefia de Gabinete do Governador - Beto Richa (PSDB) - , única no
país. O governo paranaense informou que a pasta já existia quando a
atual gestão assumiu e que não tem orçamento.
Apesar de ser uma
ferramenta de gestão, a criação de secretarias também é usada por muitos
governadores como instrumento político para acomodar aliados ou
partidos em troca de apoio no Legislativo e nas eleições.
Anúncios
de corte de despesas feitos por governadores nas últimas semanas, além
de uma resposta aos protestos que pediam a redução da tarifa do
transporte público, mostraram que há margem nas máquinas estaduais para
reduzir despesas e investir mais em serviços à população. Em São Paulo, o
governo anunciou de uma só vez a extinção de uma secretaria de estado,
uma empresa, uma autarquia e dois mil cargos de confiança, além da venda
de um dos dois helicópteros do estado, que custa R$ 4,5 milhões por ano
aos cofres estaduais.
Desafio aos governos
Ao mesmo tempo
em que criam mais secretarias, os governos estaduais também aumentam
seu quadro de funcionários. Um levantamento feito pelo GLOBO a partir de
orçamentos de 22 unidades da Federação mostra que a previsão de gastos
com funcionários nesses governos aumentou 42%, um ritmo superior ao do
crescimento de estimativa de receita (28%). Há três anos, esses
governadores, juntos, orçaram R$ 182,9 bilhões para custear a folha de
pagamento. Neste ano, a previsão é gastar R$ 259,8 bilhões. Essa
despesa, se tivesse acompanhado o ritmo de crescimento da receita (de R$
473 bilhões para R$ 605,7 bilhões), seria hoje R$ 25 bilhões menor.
Os
números mostram a dificuldade que estados terão para atender às
reivindicações das manifestações que tomaram as ruas do país no último
mês caso não haja uma mudança na forma de gestão dos recursos.
A
situação é grave. Muitos estados estão perto de infringir os patamares
de gasto com pessoal impostos pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF),
segundo dados do Tesouro Nacional. No ano passado, cinco deles (AL, PR,
SE, RN e TO) ultrapassaram o limite prudencial - de 46,55% da Receita
Corrente Líquida -, um (PB) superou o teto máximo - de 49% -, e outros
quatro (AC, AP, PE e SC) eram candidatos em potencial a entrar para essa
lista em 2013.
O GLOBO comparou também o número de funcionários
públicos por habitante nos estados com base numa pesquisa divulgada, em
março deste ano, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). Distrito Federal, Acre, Amapá, Roraima e Tocantins têm as
maiores taxas (de 4,2 a 3,3 funcionários para cada cem habitantes). Rio e
São Paulo apresentaram índices abaixo da média nacional, de 1,3 - 0,83 e
1,13, respectivamente.
Dos cinco estados com maior proporção de
servidores do país, todos, exceto o DF, estão no grupo dos dez estados
com piores índices de desenvolvimento da Federação das Indústrias do Rio
de Janeiro (Firjan), que analisa áreas como Saúde, Educação e renda.
No
Distrito Federal, líder em número de funcionários por habitante e
secretarias, o governo está construindo uma cidade administrativa,
orçada em mais de R$ 800 milhões, a serem custeados por meio de parceria
público-privada (PPP). A previsão é que a obra seja entregue no fim
deste ano. Hoje diversas secretarias estão em prédios alugados.
O
governo do DF justificou que a situação da sua administração é peculiar
no país porque ele é responsável pelas funções de estado e prefeitura.
Maranhão e Paraná informaram que estão estudando a extinção de algumas
pastas.
Professor de Finanças Públicas da Universidade de
Brasília, Roberto Piscitelli diz que o aumento de despesa com pessoal
num ritmo superior ao dos demais itens do orçamento é motivo para
preocupação.
- É preciso saber o que levou a esse aumento. Houve
uma expansão e melhoria dos serviços públicos ou um crescimento
inadequado de despesas com contratação de cargos de confiança e aumento
de estruturas, o que leva ao inchaço da máquina? No Brasil, essa última
hipótese é um problema crônico - afirmou.
Fonte: Jornal O Globo
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