A discussão na Câmara sobre o projeto de reforma política mal começou
e já encontra uma barreira, talvez intransponível, na defesa do PT pelo
financiamento público das campanhas eleitorais, tema já rejeitado pela
maioria dos partidos, especialmente o PMDB.
Com o projeto do
deputado petista Henrique Fontana tendo sido derrotado, o PT agora apoia
o projeto apresentado pela OAB e pelo Movimento de Combate à Corrupção
Eleitoral (MCCE), que não passa de uma variação sobre o mesmo tema do
PT, isto é, está baseado na lista fechada com financiamento público.
As
diferenças entre um e outro são pequenas, como veremos adiante. Já o
relator da comissão formada na Câmara, deputado federal do PV Alfredo
Sirkis, apresentou proposta de sistema eleitoral misto, proporcional e
majoritário, esse último exercido em grandes distritos, plurinominais.
O
eleitor teria dois votos, um para escolher a legenda partidária e outro
para escolher um candidato local. 50% dos deputados e vereadores seriam
eleitos por sistema proporcional, com voto de legenda na lista
preordenada de candidaturas com 30% de participação feminina
obrigatória.
Os votos de legenda são computados em todo o estado e
as cadeiras divididas entre os partidos de acordo com a proporção de
votos por eles recebidos. Não haveria coligações, mas os partidos
poderiam formar federações nacionais, por uma legislatura, para disputar
esse voto.
A outra metade dos deputados seria eleita em grandes
distritos, pelo sistema nominal, majoritário, eleitos os mais votados,
em ordem decrescente. Os distritos eleitorais seriam desenhados, pelo
TSE com concurso técnico do IBGE, de maneira a garantir que, dentro do
estado, cada um tenha aproximadamente o mesmo número de eleitores por
representante eleito.
Nos estados que elegem até 10 deputados
federais haveria um distrito plurinominal único (o distritão),
constituído pelo próprio estado. Candidatos poderiam concorrer pela
lista e pela votação nominal majoritária no seu respectivo grande
distrito, mas não concorrer na disputa majoritária em mais de um
distrito. Eleito o candidato tanto no distrito como na lista, seu lugar
na lista seria ocupado pelo seguinte na ordem.
O projeto de Sirkis
estabelece limites de gastos para doadores — tanto pessoa física quanto
jurídica — bem como para candidatos e partidos, a serem fixados pela
Justiça Eleitoral, devendo ser, na 1ª eleição, 40% da média de gastos
para o mesmo cargo da eleição anterior.
Além das empresas privadas
poderiam também contribuir as associações profissionais e as entidades
da sociedade civil com recursos especificamente arrecadados para esta
finalidade, entre seus membros, em período eleitoral, por coleta e conta
específicas, vedado o uso de recursos públicos ou outros fundos da
entidade.
Doações de pessoa jurídica só poderiam ser feitas aos
partidos. A campanha seria barateada com os programas de televisão tendo
restrições para que mostrem apenas o candidato e suas ideias e
propostas, sem edições de apoio.
O PT, no entanto, pretende apoiar
a proposta da OAB e do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, o
mesmo que fez a campanha pela Ficha Limpa, que nada mais é que um
derivativo da proposta da proposta do petista Henrique Fontana rejeitada
no Congresso, baseada na lista fechada para garantir o financiamento
público da campanha. A única diferença é que a eleição se daria em dois
turnos.
No 1º turno, o eleitor votaria no partido ou coligação,
que apresentará a proposta e uma lista de candidatos escolhida pelo voto
dos filiados, com os nomes ordenados. A campanha seria focada na agenda
do partido.
No 2º turno, os partidos levarão às urnas um número
de candidatos que corresponda ao dobro das cadeiras conquistadas no 1º
turno. O eleitor votaria no candidato com que tiver maior afinidade,
independente da ordem que tiver sido definida pelo partido na fase
anterior. Campanha individual é restrita ao 2º turno.
A
preocupação com a proibição de pessoas jurídicas de financiar as
campanhas e a viabilização do financiamento público fizeram com que o
MCCE privilegiasse os partidos e não os candidatos, o que vai de
encontro ao eleitorado, que não se sente representado pelos partidos.
O
sistema misto proposto por Sirkis ajuda a viabilizar o fortalecimento
dos partidos sem que o eleitor deixe de escolher diretamente seu
candidato.
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