Faltando quatro semanas para o Congresso aprovar a chamada
minirreforma eleitoral a tempo de valer para as próximas eleições, são
cada vez mais remotas as chances de construção de um amplo entendimento
entre deputados e senadores sobre o texto. Pelo ritmo dos debates até
agora, deverá ficar com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a tarefa de
regulamentar as regras que vão valer para as eleições de 2014, podendo,
inclusive, aprovar mudanças que contrariem os interesses dos políticos.
Dois
parlamentares, o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) e o senador Romero
Jucá (PMDB-RR), ainda fazem um último esforço para convencer os líderes
partidários a votar e evitar que, mais uma vez, o TSE decida. Os dois
têm conversado para tentar encontrar um texto que possa ter o apoio das
duas Casas e trabalham para que ele seja aprovado na próxima semana no
Senado e, daqui a 15 dias, na Câmara. Vaccarezza afirma que, se a Câmara
quiser acrescentar algo ao texto, haveria tempo de ainda voltar ao
Senado e ser promulgado antes do início de outubro.
A falta de
consenso, no entanto, desidrata a cada dia o projeto da minirreforma,
que, se for realmente aprovada, deverá trazer como mudança mais
significativa apenas a regulamentação da pré-campanha eleitoral, algo
que interessa principalmente aos políticos. Um ponto que modificaria a
eleição, a redução do tempo de campanha eleitoral, de 45 para 30 dias,
já foi bombardeado por dois pré-candidatos que devem disputar a
Presidência no próximo ano: o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o
governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).
A redução do tempo
de campanha já foi rejeitada, na semana passada, em votação preliminar
na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Esse texto poderá
sofrer mais modificações na próxima semana. Durante o debate da semana
passada, alguns senadores, como Pedro Taques (PDT-MT), criticaram a
aprovação e a discussão prolongada de “perfumarias”, como o tamanho de
placas que podem ser usadas na eleição.
Dois pontos importantes,
que poderiam garantir mudanças importantes no custo e na transparência
das eleições, foram rejeitados nessa primeira votação: o fim do
pagamento dos cabos eleitorais, emenda defendida pelo PT e outros
partidos, e a publicidade em tempo real, durante a campanha (e não
apenas depois do pleito), de quem doou e o valor doado, apresentada por
Taques. Na votação da próxima semana, esses dois temas serão novamente
debatidos e haverá pressão para que sejam incluídos no texto.
—
Imagine um candidato que se apresente como defensor do meio ambiente,
mas que receba doação de empresas que atuam na direção contrária. O
eleitor tem o direito de saber quem está doando, antes da eleição —
disse Taques.
PT quer proibir remuneração para cabos eleitorais
No
processo de discussão da minirreforma eleitoral, o senador Humberto
Costa (PT-PE) pretende insistir na apresentação da emenda que acaba com
os cabos eleitorais remunerados, mas petistas sabem que esse tipo de
medida encontra resistência.
— Nós, do PT, defendemos o fim dos
cabos eleitorais, que é a legalização da compra de votos, mas sabemos
que é difícil aprovar. A reforma deverá ficar restrita à regulamentação
da pré-campanha — afirmou o senador Walter Pinheiro (PT-BA).
No
Senado, a minirreforma está sendo debatida, em caráter terminativo na
CCJ, mas se houver recurso, o texto terá de passar e ser aprovado no
Senado, antes de seguir para a Câmara. Romero Jucá (PMDB-RR) defendeu a
reforma para redução dos custos de campanha e uniformizar entendimentos,
evitando que juízes eleitorais possam proferir decisões diversas.
Na
Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP) apresentou um pré-texto e conseguiu
até mesmo aprovar a votação, em regime de urgência, no plenário da Casa,
antes do recesso de julho. Vaccarezza tentou apresentar um primeiro
texto, com vários pontos polêmicos, mas foi obrigado a retirar parte das
modificações.
Líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ) também
avalia que está muito difícil aprovar as mudanças antes de outubro. O
líder do PSB, Beto Albuquerque (RS), concorda:
— Serão só
penduricalhos e o ambiente não está propício. Não vamos dar aval a
qualquer medida que diminua o tempo de campanha, por exemplo, ou
mudanças na Ficha Limpa. Quem não faz a reforma política não pode querer
ficar fazendo remendo eleitoral.
Para ler a notícia diretamente no site do Jornal o Globo, clique aqui.
|