É uma tradição na administração pública recorrer-se ao diagnóstico da
“falta de recursos” para explicar todas as mazelas. País hoje de renda
média, mas já classificado de “subdesenvolvido”, o Brasil tem, é
verdade, carências, mas, por contar com um dos oito maiores PIBs do
mundo, e uma carga tributária (36% do PIB) superior à de qualquer outra
economia emergente, a justificativa da escassez de dinheiro para a má
qualidade de serviços públicos básicos tem perdido força.
A
demanda, porém, por mais verbas, principalmente para Educação e Saúde, é
crescente. E aumenta à medida que se aproxima o calendário eleitoral.
Os próprios Executivo e Legislativo tratam de agir nesta direção. Há
poucos dias, a presidente Dilma sancionou lei para destinar 75% dos
royalties do petróleo para a Educação e 25% à Saúde. Na versão original
do projeto, encaminhado ao Congresso pelo Executivo, eram 100% para o
ensino, conforme um dos “pactos” propostos pela presidente tão logo o
Planalto saiu do estado de perplexidade causado pela eclosão dos
movimentos de rua, em junho, fora do controle das máquinas tradicionais
de mobilização política (PT, sindicatos, UNE e outras organizações ditas
sociais).
Assim, o SUS e o ensino público caminham para atingir a
meta, defendida pelos movimentos que atuam nos dois setores, de cada um
receber 10% do PIB. O objetivo já está incluído no Plano Nacional de
Educação. Significa, aproximadamente, dobrar, em termos de participação
no PIB, o peso da Saúde (hoje, 4%) e Educação (5%, atualmente).
Sem
considerar mais este avanço no engessamento dos gastos públicos — já
bastante comprometido com percentuais fixos de despesas —, há a grave
questão da qualidade das despesas.
Não se desconhece o
“subfinanciamento” em alguns segmentos das duas áreas. Mas preocupa que,
mesmo diante de frequentes exemplos de má administração dos bilhões que
transitam na Saúde e Educação, os esforços para melhorias de gestão
sejam menos intensos que os destinados a reservar mais dinheiro no
Orçamento.
Há muito o que fazer além de lobby nas antessalas do
Executivo e Legislativo. Na Saúde, há experiências positivas comprovadas
de novos modelos de gestão de hospitais e emergências públicas de que
resultam aumentos de produtividade e qualidade. Mas é preciso ter
coragem e vontade política para enfrentar as corporações sindicais
contrárias as qualquer mudança neste campo.
Na Educação, por sua
vez, existem incontáveis histórias de sucesso de escolas no ensino
básico, em regiões pouco desenvolvidas, com resultados comparáveis aos
de países ricos. Trata-se de replicar a experiência em outras cidades e
estados. Também aqui é necessário enfrentar resistências corporativas,
por exemplo, à premiação da meritocracia entre o professorado.
É uma ilusão considerar que apenas mais recursos orçamentários retirarão a Saúde e a Educação do atoleiro em que se encontram.
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