O governo pode terceirizar a
análise sobre a capacidade de Estados e municípios tomarem crédito para
acelerar os repasses de recursos federais para prefeituras e governos
estaduais. O projeto elaborado pela área econômica para dar um alívio
fiscal nas dívidas com a União prevê que esse trabalho, hoje
exclusividade do Tesouro Nacional, possa ser feito pelos bancos que
concederem o crédito.
De acordo com a proposta, o Ministério da Fazenda estabelecerá normas
para que os bancos avaliem a situação econômica de Estados e
municípios, levando em conta "princípios da eficiência e da
economicidade". A proposta foi discutida na semana passada, durante
reunião entre os líderes governistas do Senado e o ministro da Fazenda,
Guido Mantega.
A ideia é que os bancos possam fazer toda a análise dos
financiamentos de baixo valor, mas o Tesouro continuaria tendo a palavra
final. Não há nenhuma referência no projeto sobre qual será o limite
dos empréstimos analisados fora do ministério.
O Tesouro Nacional exigirá que os governadores e prefeitos, quando
apresentarem o pedido de crédito, comprovem a existência de espaço
fiscal para aumento do endividamento e também certidão dos tribunais de
contas. Atualmente, a Secretaria do Tesouro tem de analisar as contas
dos municípios e dizer se o ente atende às condições de adquirir a
operação pretendida.
Segundo o relato dos líderes que participaram do encontro, a medida
tem o objetivo de reduzir a burocracia e tornar mais ágil a liberação de
recursos para pequenos e médios municípios integrantes de programas do
governo. O objetivo, segundo eles, é dar uma velocidade nos
atendimentos, destravar o processo e desburocratizar o atendimento.
O projeto discutido com o governo também acaba com a exigência de que
os prefeitos façam "privatização, permissão, concessão, reforma
administrativa e patrimonial". Essas medidas eram obrigatórias quando os
Estados renegociaram as dívidas com a União, mas agora o governo
exigirá medidas de "gestão pública" nos programas de ajuste fiscal que
assinará com as prefeituras de capitais.
O pacote de alívio fiscal negociado pelo governo com o Congresso
ainda precisa ser votado pelas duas casas. O projeto está na pauta do
plenário da Câmara desta semana. A proposta deve ser aprovada com
facilidade, mas pode enfrentar resistência no Senado, porque os
senadores querem forçar a inclusão de regras que regularizem os
incentivos fiscais concedidos a empresas, considerados inconstitucionais
pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O governo ainda aposta num acordo
no Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), que reúne todos os
secretários de Fazenda.
O principal ponto negociado é a redução retroativa dos juros pagos na
dívida renegociada desde 1997. Com a mudança no indexador, o governo
vai reduzir o estoque do endividamento estadual em R$ 1 bilhão, segundo o
secretário-executivo interino da Fazenda, Dyogo de Oliveira. O governo
não faz estimativas para os municípios, mas apenas São Paulo terá uma
queda de R$ 24 bilhões na dívida.
Em vez de pagar juros equivalentes ao IGP-DI mais 6%, 7,5% ou 9% ao
ano, os Estados e municípios terão o estoque da dívida reduzido à
variação da Selic desde a assinatura do contrato. Para as parcelas
vencidas a partir de janeiro deste ano, a correção é o IPCA mais juros
de 4% ao ano, ou a taxa Selic, o que for menor. O Tesouro assinará
aditivos aos contratos para que a nova regra passe a valer.