Com argumentos voltados para o compromisso com a responsabilidade
fiscal, num momento em que é grande a preocupação no governo com o
equilíbrio das contas públicas, a presidente Dilma Rousseff vetou
integralmente o projeto de lei aprovado em outubro pelo Congresso que
abre possibilidade de criação de pelo menos 188 municípios. A proposta
foi aprovada por ampla maioria, tanto na Câmara quanto no Senado. O
Congresso pode derrubar o veto presidencial.
O líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), disse, porém,
que este veto só deverá ser analisado em fevereiro, porque termina em
janeiro o período de 30 dias que faz com que ele passe a trancar a
pauta das sessões conjuntas do Congresso. O líder reconhece a força do
projeto: — Vai ser uma matéria tensa (a votação do veto) porque tanto
na Câmara quanto no Senado houve uma movimentação em favor da matéria,
mas há senadores preocupados com esse impacto. Não sei se conseguirão
dois terços no Congresso para derrubar o veto.
Não tenho dúvidas que uma das preocupações é com impacto nas contas
públicas, com novos prefeitos, vereadores. Tudo isso impacta nos
investimentos e custeios da União. Na mensagem presidencial que
acompanha o veto, a presidente Dilma afirma que o projeto de lei
permitirá a expansão expressiva do número de municípios no país, com
aumento de despesas para manutenção de sua estrutura administrativa e
legislativa.
“Além disso, esse crescimento de despesas não será acompanhado por
receitas equivalentes, o que impactará negativamente a sustentabilidade
fiscal”. O relator do texto aprovado no Congresso, senador Valdir
Raupp (PMDB-RO), lamentou a decisão da presidente Dilma, apesar de
reconhecer que a situação fiscal deve ser tratada com cautela.
— Reconheço que é um momento delicado por conta do aumento de
gastos, mas por outro lado, faz 17 anos que não se cria um município no
Brasil e hoje há distorções, como distritos com 30 mil habitantes, que
estão a mais de 300 km da capital. Eles ficam abandonados, sem
autonomia para nada. O senador contou que esteve ontem, após saber do
veto, com as ministras Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e
Miriam Belchior (Planejamento) e elas teriam dito que a decisão da
presidente Dilma de vetar o projeto não foi tomada com tranquilidade, e
que a vontade dela era de sancionar.
Mas, as pressões de prefeitos por mais verbas e o impacto do repasse
do FPM teriam levado Dilma a optar pelo veto.— Estou triste porque é
uma injustiça. Depender de um município que está longe leva essas
cidades a uma situação de penúria. Se as capitais não dão conta nem dos
seus próprios problemas, imagine dos outros — afirmou Raupp.
Fonte: Jornal O Globo
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