O Congresso aprovou ontem o projeto que altera a Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO) de 2013 e permite o abatimento dos investimentos de
estados e municípios da meta de superávit primário, reduzindo o esforço
fiscal. Com a mudança na lei, a União não precisará compensar o que
estados e municípios deixarem de contribuir para o superávit primário
(economia para o pagamento de juros da dívida pública). Na prática, a medida ajuda no fechamento das contas deste ano. Com
isso, a meta de 2,3% do PIB prevista para o setor público consolidado,
ou R$ 110,9 bilhões, já descontadas as despesas com o Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC), poderá ser reduzida em até R$ 48
bilhões, que é a parcela de estados e municípios. O governo federal já se comprometeu em arcar com R$ 10 bilhões numa
reserva especial dentro do Orçamento da União de 2013, o que reduziria o
esforço fiscal desses entes para R$ 38 bilhões, mas até setembro eles
só conseguiram economizar R$ 18,5 bilhões. O PSDB e o DEM votaram
contra simbolicamente. — O superávit está sendo esculhambado no Brasil — disse o deputado
Marcus Pestana (PSDB-MG). Essa mesma regra foi incluída na LDO de 2014
e aprovada pela Comissão Mista de Orçamento. A LDO de 2013 ainda
permite abatimento de até R$ 65,2 bilhões em recursos do PAC e
desonerações. PERDA DE URGÊNCIA Já o projeto de lei complementar que muda os índices de correção das
dívidas de estados e municípios com a União, a partir de janeiro de
2013, e autoriza o recálculo desses débitos retroativamente deixou de
ser uma prioridade para o governo. Preocupada com a perda de
credibilidade da política fiscal, por causa da deterioração das contas
públicas, a equipe econômica decidiu acalmar o mercado e não vai mais
trabalhar pelo projeto, que já foi aprovado pela Câmara e aguarda
votação no Senado. — O projeto tem lá um item que pode dar margem à interpretação de que
queremos aumentar gastos com estados e municípios. Não é nada disso —
disse ontem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega. — Mas tendo em vista
essa possibilidade de mal-entendido, então, queremos que ele seja
aprovado numa oportunidade melhor. Segundo técnicos da equipe econômica,
o projeto foi deixado de lado, porque, embora traga avanços
importantes, como a proibição permanente de emissão de títulos pelos
governos regionais, foi visto com muita restrição pelo mercado num
momento delicado, em que o superávit primário (economia para o pagamento
de juros da dívida pública) está bem abaixo da meta. O ponto mais delicado para o mercado, segundo os técnicos, é a
possibilidade de revisão dos estoques de dívidas, visto como uma
afronta à Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). A ministra de Relações
Institucionais, Ideli Salvatti, negou que o governo tenha desistido do
projeto, mas reconheceu que há dificuldades políticas para aprovação do
texto no Senado. Já o senador Lindbergh Farias (PTRJ) afirmou que a proposta é resultado
de um acordo entre os governadores e corrige uma distorção que há hoje
nos contratos, que são corrigidos por indexadores que são muito
desfavoráveis. Segundo ele, o texto será mantido e tem condições de ser
votado no Senado este ano. — O sentimento continua sendo o de votar
ainda este ano. O projeto pode não ser uma prioridade para o governo federal, mas é para
estados e municípios — disse Lindbergh. Já o senador Romero Jucá
(PMDB-RR), que deve ser o relator da proposta na Comissão de Assuntos
Econômicos (CAE), disse que a mudança dos’ indexadores é uma
necessidade e precisa ser feita em algum momento: — Entendemos a
conjuntura. O governo tem razão de estar preocupado, mas o tema tem que
ser tratado. TCU: MUDANÇA TRAZ RISCOS O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que não houve
pedido do governo para que a proposta seja retirada de pauta e também
afirmou que ela será votada este ano: — A troca de indexador está na
CCJ (Comissão de Constituição e Justiça). Eu acho que vota (este ano).
Essa regra, esse indexador é uma coisa que pune os estados, sobretudo os
mais pobres. Não tem lógica retirar o endividamento de estados e
municípios do cálculo do superávit e continuar pagando essa taxa de
juros. Pela proposta, as dívidas serão corrigidas pela taxa Selic ou o IPCA
mais 4% ao ano, o que for menor. Hoje, o indexador é o IGP-DI mais 6% a
9% ano, o que pesa nas contas de estados e municípios. O texto prevê
ainda a revisão dos estoques até o fim de 2012. O Tesouro fará uma
simulação e, se a Selic do período tiver sido mais vantajosa para a
correção da dívida, ela substituirá o indexador. O Tesouro não informa o impacto da mudança no estoque das dívidas, que
somam R$ 462 bilhões. Mas Mantega adiantou que os débitos poderiam ter
redução de R$ 15 bilhões em 2013. A presidente da Associação Nacional
dos Auditores de Controle Externo dos Tribunais de Contas do Brasil
(ANTC), Lucieni Pereira da Silva, afirmou que a proposta atinge a LRF: —
O próprio TCU já alertou para o risco que essa mudança terá nas contas
do governo. A proposta deveria ser abandonada. (Colaborou Luiza Damé).
Fonte: Jornal O Globo
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