BRASÍLIA — Uma nova Lei de Licitações, em discussão no Senado,
ganhará uma proposta formal na quinta-feira, quando a senadora Kátia
Abreu (PMDB-TO) deve entregar seu relatório à comissão especial
destinada a reformar essas normas. A proposta, que promete provocar
polêmica, é de se revogar a Lei 8.666/93 e o atual Regime Diferenciado
de Contratações (RDC), para unificá-las. Outros ajustes também seriam
feitos, em uma legislação a ser cumprida por União, estados e
municípios.
O texto não foi bem-visto por representantes de
empresários, mas segue ideias defendidas pelo governo federal. A
proposta foi elaborada a partir de sugestões de governos, empresas e
entidades de classes em busca de uma lei mais moderna e mais próxima à
realidade, em que muitas das previsões legais não conseguem evitar
distorções em contratações estatais.
O projeto acabou incorporando
praticamente todo o amparo legal já existente, mas cria novas opções e
oferece ao gestor diversas alternativas de procedimentos licitatórios,
de forma que ele possa optar por aquele mais conveniente, dependendo da
ocasião. Por esse motivo — e por ter 176 artigos, contra 126 da 8.666 —,
o texto tem sido chamado de “Frankenstein” por representantes de
empresários.
Critérios qualitativos preservados
Havia
uma expectativa de mercado de que fosse privilegiado o critério preço
em todas as contratações, mas a senadora preservou critérios de
habilitação técnica e de critérios mais qualitativos nas propostas, o
que pode evitar aditivos, mas também aumentar a margem para
subjetividades nas contratações, segundo representantes do setor
empresarial.
A indicação da senadora vai em linha com o que
defendia o governo, principalmente a secretária do PAC, no Ministério do
Planejamento, que solicitou na discussão a “valorização dos julgamentos
por técnica” e uma revisão no conceito de julgamento objetivo. Pelo
projeto, o governo mantém ainda artifícios para contratações criados no
âmbito do RDC, como a possibilidade de oferecer remuneração variável
conforme o nível de desempenho do executor de determinado serviço.
Setores
empresariais entendem que esse pode ser um estímulo à competição entre
as empresas, mas também pode comportar desvios para favorecimento de
concorrentes.
A proposta altera, ainda, um item polêmico nas
contratações via RDC, que tinham apenas 30 dias entre o edital e a
entrega de propostas, o que poderia favorecer quem tivesse informação
privilegiada. O novo prazo seria de 60 dias.
No debate, porém, a
Controladoria-Geral da União (CGU) indicou que a mudança no marco legal
das licitações “jamais será remédio bastante eficiente e suficiente”
para distorções nos processos. Procurada, a senadora não respondeu ao
GLOBO antes do fechamento desta edição. A proposta deve ser votada em
plenário apenas no ano que vem.
Fonte: Jornal O Globo
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