Não é apenas o governo Dilma Rousseff que dá benefícios a contribuintes em atraso na tentativa de fechar as contas do ano.
Levantamento feito pela Folha mostra que pelo menos 16 dos atuais
governadores recorreram neste mandato a programas de parcelamento de
tributos atrasados, com abatimento de multas e outras vantagens.
Trata-se de uma reação à perda de fôlego da arrecadação de impostos,
que, em razão do crescimento anêmico da economia, deixou para trás as
taxas de expansão acelerada com que contaram as gestões anteriores.
Só neste ano, nove Estados, incluindo São Paulo e o Distrito Federal,
ofereceram benefícios para o parcelamento de dívidas relacionadas ao
pagamento do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e
outros tributos.
Na busca de receitas extras, os governos deixam de lado avaliações de
especialistas segundo as quais programas do gênero acabam por estimular a
sonegação.
"A medida cria a expectativa de que haja periodicamente a instituição de
parcelamento especial, estimulando o inadimplemento de obrigações
tributárias", como escreveu a presidente Dilma Rousseff, em maio.
Na ocasião, a presidente vetava um projeto semelhante aprovado pelo Congresso.
MUDANÇA
Cinco meses depois, Dilma mudou de ideia e sancionou outra proposta de reabertura do Refis, como é chamado o programa federal.
Agora, o governo federal anuncia uma receita extraordinária de R$ 20 bilhões em novembro.
A segunda maior iniciativa é a paulista, que já rendeu R$ 6,3 bilhões.
Segundo o secretário da Fazenda do Estado, Andrea Calabi, o programa
"salvou" as contas de 2013.
"Com o programa, pudemos cumprir totalmente o Orçamento aprovado para o
ano. Assim, colocamos as contas em dia para o último ano da gestão. O
resultado foi excepcional", afirmou.
A expectativa de São Paulo é arrecadar no total, com as parcelas dos
próximos dez anos, R$ 17 bilhões. É comum, porém, que contribuintes
voltem a dar calote.
A medida trouxe o ganho adicional de reduzir o endividamento do Estado,
porque os créditos com os contribuintes são descontados do valor da
dívida --que, do ano passado para cá, caiu do equivalente a 154% para
127% da receita anual.
O último programa do tipo feito por São Paulo foi em 2007. Calabi disse
considerar o intervalo suficiente para não estimular a sonegação.
RECORRÊNCIA
Seis Estados e o Distrito Federal lançaram dois parcelamentos especiais
nos últimos três anos. O Piauí ofereceu vantagens para pagamentos de
débitos tributários em 2010, 2012 e 2013.
A previsão é arrecadar R$ 70 milhões neste ano, que devem ser destinados
para investimentos, segundo o secretário da Fazenda piauiense, Antônio
Silvano Alencar.
Os dois parcelamentos anteriores renderam juntos R$ 110 milhões, mas
acabaram usados para gastos de custeio administrativo e salários.
Apesar de reconhecer que os programas criam um injustiça entre as
empresas, Alencar diz que eles são necessários por causa da
"ineficiência do sistema".
"A realidade brasileira não é muito boa para recuperação de débito. A
ação na Justiça demora. O tempo acaba dilapidando o patrimônio das
empresas e não conseguimos arrecadar", argumenta.
Fonte: Jornal Folha de S. Paulo
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