A política de contenção de preços de combustíveis e a redução de
tarifas de energia elétrica fizeram a arrecadação sobre o grupo de
preços administrados perder espaço na arrecadação total do Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) em 2013, na comparação com o
ano anterior. A fatia de recolhimento sobre preços administrados recuou
de 35,4% em 2012 para 33% no ano passado na arrecadação de ICMS de todo
o país. Os dados levam em consideração a arrecadação de janeiro a
setembro nos dois anos. Em 2004 a participação dos preços administrados
era de 42%.
Com a redução do grupo de preços administrados, a arrecadação dos
Estados fica mais dependente do ICMS gerado pelas atividades das
indústrias e do comércio, o que deve se tornar um desafio adicional num
ano em que a expectativa de crescimento da economia é modesta. O imposto
cobrado sobre energia, comunicação e combustíveis costuma ter alíquotas
mais altas que a do restante da atividade econômica justamente porque
os Estados tentam garantir suas receitas com a tributação mais acentuada
desse grupo. A alíquota dos administrados é, de forma geral, de 25%
enquanto a alíquota para as demais operações costuma ser de 18%. Com
redução de representatividade desse grupo na arrecadação total do ICMS,
porém, os Estados ficam com menor margem de manobra para elevar a
arrecadação.
No ano passado, com o crescimento do PIB estimado em 2,3% segundo a
média de mercado acompanhada pelo Banco Central, vários Estados tiveram
de recorrer a recursos extraordinários para garantir um crescimento real
de arrecadação mais robusto e até o cumprimento dos valores orçados.
Para 2014, a estimativa de mercado para o de PIB é menor ainda, de perto
de 2%.
Os Estados mais industrializados já dependem menos dos preços
administrados, mas mesmo assim sentiram os efeitos da política do
governo federal sobre combustíveis e energia elétrica. Em São Paulo, por
exemplo, a fatia dos administrados caiu de 29,4% em 2012 para 27,2% no
ano passado. Em 2004, a participação era de 37,3%.
Segundo dados da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo, por
conta da redução de tarifas, o recolhimento do ICMS sobre energia
elétrica recuou 18,3% reais nos 12 meses encerrados em novembro, na
comparação com os 12 meses anteriores.
Luiz Marcio de Souza, chefe da assistência fiscal de planejamento
estratégico da Secretaria da Fazenda de São Paulo, explica que no longo
prazo o setor de comunicação tem contribuído para essa mudança, de forma
mais estrutural. A competição nos preços entre as várias operadoras e a
combinação de produtos e serviços oferecidos pelas empresas de
telecomunicação têm afetado a base de incidência e a alíquota média de
ICMS aplicada no setor. Mesmo com a fiscalização da Fazenda e as
autuações fiscais sobre as empresas do setor, a arrecadação do imposto
no segmento nos 12 meses encerrados em novembro caiu 5,7% reais.
José Roberto Afonso, especialista em contas públicas, lembra que no
ano passado vários Estados buscaram compensar a arrecadação perdida com
energia elétrica com receitas extraordinárias, como as originadas por
parcelamentos. "Essa arrecadação adicional, porém, é temporária, sendo
que o efeito da política de contenção de preço de combustíveis e de
redução de tarifa de energia é permanente", diz.
No Paraná, um programa de fiscalização sobre combustíveis colaborou
para manter a fatia do recolhimento sobre preços administrados estável
em 43% da arrecadação total de ICMS de 2012 para o ano passado. "Havia
um esquema de fraude que combatemos no setor, em parceria com outros
Estados", diz a secretária de Fazenda, Jozélia Nogueira. A fatia do ICMS
sobre energia, porém, caiu um ponto percentual, para 12,6%. A
secretária destaca que o grupo dos administrados perdeu muita
representatividade no Estado. Em 2004, os três setores respondiam por
50% do imposto recolhido.
Uma das vantagens da arrecadação sobre preços administrados é a
relativa facilidade de recolhimento nesses setores. O ICMS sobre
combustíveis, por exemplo, é recolhido atualmente por substituição
tributária na saída da refinaria, o que facilita a fiscalização. O
imposto sobre energia é recolhido pelas concessionárias, tenha sido paga
ou não a conta de luz. "A arrecadação dos preços administrados garante
um fluxo de caixa necessário para garantir os investimentos", diz
Jozélia.
No Espírito Santo, num movimento inverso ao geral, a parcela de
administrados aumentou de 29,9% em 2012 para 32,6% no ano passado. O que
contribuiu para esse avanço, segundo Maurício Duque, secretário da
Fazenda capixaba, foi o setor de combustíveis, cujo recolhimento de ICMS
cresceu 10% em 2013, na comparação com o ano anterior. Energia elétrica
e comunicação tiveram queda de 5% e 0,3%, respectivamente. Para Duque, a
alta de combustíveis pode ser explicada pela elevação de frota de
veículos no Espírito Santo, mas principalmente pelo baixo desempenho da
arrecadação total de ICMS no Estado.
Afetada pela Resolução 13, que reduziu as alíquotas interestaduais
sobre mercadorias importadas, a receita do imposto capixaba caiu 14% em
termos nominais. Com queda menor, o grupo de preços administrados acabou
avançando na fatia de arrecadação. A expectativa do secretário é que
pelo menos o setor de combustíveis mantenha o resultado positivo em
2014. "Esperamos que a política de controle de preços seja alterada e
haja uma nova fórmula de reajuste dos combustíveis, o que possibilitará
elevação de arrecadação no segmento."
Fonte: Jornal Valor Econômico
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